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2024#13 Resiliência climática traz desafios para o capital privado
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2024

#13 Resiliência climática traz desafios para o capital privado

O custo cada vez mais alto da emergência climática

Projeções preliminares do economista Claudio Frischtak, sócio da Inter.B, estimam que a reconstrução do estoque de capital destruído na catástrofe climática no Rio Grande do Sul deverá ter um custo de pelo menos R$ 90 bilhões. O dado, publicado em reportagem recente do jornal Valor Econômico, tem como base a recuperação de infraestruturas elétricas, de transporte e de saneamento. 

A conta foi feita com base em padrão internacional para contabilização de estoque de ativos. Não entram no cálculo infraestrutura urbana, como pavimentação de ruas, residências e parques fabris. Apenas com base nesses critérios, o volume de recursos para a reparação chega a 0,9% do PIB brasileiro.

As enchentes no Rio Grande do Sul são um dos maiores e mais dramáticos eventos climáticos extremos registrados no país, mas não são o primeiro e muito provavelmente não serão o último. 

Miniatura do vídeo Impacto econômico da seca do Rio Negro

Entre os mais recentes, o Rio Negro, no Amazonas, registrou em outubro de 2023 o menor nível desde 1902. A estiagem comprometeu as operações do Porto de Manaus, causando impactos econômicos ao longo de quatro meses - entenda o caso.

A urgência do investimento em adaptação e resiliência

A sucessão cada vez mais frequente e intensa desses eventos climáticos no Brasil e no mundo demonstra que o aumento de investimentos em adaptação e resiliência climática nunca foi tão urgente. 

De acordo com informações da Unep FI, os fluxos de financiamento anunciados estão muito abaixo das necessidades globais estimadas, com uma lacuna de US$ 387 bilhões em investimentos para atender as prioridades nacionais. 

Dados da organização indicam que 11% das empresas com ações negociadas em bolsa de valores de todo o mundo fornecem produtos e serviços que podem contribuir para adaptação e resiliência. Ao mesmo tempo, os benefícios de investir em empresas que fornecem estas soluções podem ser até 15 vezes superiores aos seus custos. 

Adaptação e resiliência: qual a diferença?

Embora possam parecer sinônimos, os conceitos de adaptação e resiliência são diferentes e complementares. Entenda: 

Adaptação: refere-se a um processo ou ação que muda sistemas e processos para que sejam mais resistente a novas condições ambientais. Tipos de ações:

  • Construção de defesas contra inundações
  • Criação de sistemas de alertas preventivos
  • Mudanças para culturas agrícolas resistentes à seca e desenvolvimento de sementes adaptadas às mudanças climáticas
  • Reformulação de sistemas de comunicação, de operações comerciais e de políticas governamentais.

Resiliência: consiste na capacidade de antecipar e lidar com impactos causados por mudanças climáticas de maneira oportuna e eficiente. Tipos de ações:

  • Políticas públicas de investimento na atuação de forças de segurança
  • Sistemas que garantam o funcionamento de infraestruturas
  • Planos de contingência para melhor preparação em casos de emergência
  • Construção de estruturas e sistemas sustentáveis, flexíveis e duráveis 

Questões em pauta no G20

A capitalização de instituições multilaterais e maiores aportes de bancos de desenvolvimento e do setor privado estão entre as prioridades da atuação da presidência brasileira no G20. A ONU (Organização das Nações Unidas), em conjunto com diversos países e representantes da sociedade civil global, manifestou recentemente apoio a propostas apresentadas pelo Brasil sobre o tema.

O roteiro proposto pretende dar mais celeridade, escala e impacto à atuação dos bancos multilaterais em apoio às estratégias dos países em desenvolvimento para alcançar os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e as metas do Acordo de Paris. 

A proposta pressupõe maior capacidade de alavancagem de recursos privados por meio de mecanismos como blended finance e garantias, assim como ampliação e melhor uso do capital dessas instituições.

Entre as outras prioridades da presidência brasileira do G20, está a desburocratização para acesso dos países do Sul Global aos quatro principais fundos multilaterais que financiam projetos para frear a crise climática. 

Juntos, o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund), o Fundo de Investimento Climático (Climate Investment Funds), o Fundo de Adaptação (Adaptation Fund) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility) possuem uma carteira de investimentos que ultrapassa US$ 27 bilhões.

No caso específico do Brasil, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) administra atualmente um dos maiores fundos de adaptação e mitigação do mundo, o Fundo Clima, que captou R$ 10,4 bilhões com a emissão de títulos soberanos sustentáveis pelo Tesouro Nacional.

Análise de risco para investidores

"Fotografia de Denise Hills, uma mulher branca, de cabelos castanhos ondulados na altura do pescoço. Ela veste uma blusa branca e um blazer vermelho.Os recentes eventos que afetaram não só o Rio Grande do Sul, mas também as grandes secas na Amazônia, as enchentes do litoral norte de São Paulo e também em Recife, mostram que os inúmeros efeitos das mudanças do clima se tornam cada vez mais materiais. Isso traz a reflexão sobre a importância  para não dizer urgência  da correta incorporação e valoração desse risco à avaliação dos portfólios e à conscientização dos investidores", explica Denise Hills, líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.

"A materialidade e a evidência estatística dos efeitos climáticos são fundamentais para a correta equação de risco-retorno e, portanto, de definição do valor de um investimento, seja para o investidor, gestor ou administrador que gerenciam esse risco", complementa a especialista em ESG.

Para compreender a complexidade dessa análise, é preciso levar em consideração dois conceitos fundamentais:

• Riscos climáticos físicos: são relacionados aos impactos físicos das mudanças climáticas por meio de eventos extremos, como inundações, secas extremas e tufões. Os efeitos de tais fenômenos causam perdas de vidas e alteram a rotina de cidades e regiões inteiras, comprometendo o funcionamento das economias nas regiões afetadas.

• Riscos climáticos de transição: dizem respeito às respostas da sociedade para as mudanças do clima, como a busca de novas tecnologias. Isso envolve medidas que vão desde alterações regulatórias, no sentido de tornar mais caras ou conter atividades com grandes emissões de gases de efeito estufa, à identificação de mudanças no comportamento de consumidores e da economia de um modo geral.

Existe um consenso de que as mudanças do clima vão ter impacto sobre as variáveis econômicas, capazes de impactar a estabilidade dos sistemas financeiros globais, assim como suas políticas monetárias. 

Com o objetivo de estabelecer esses padrões, foi criado durante a COP 15 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em 2017, a NGFS (Central Banks and Supervisors Network for Greening the Financial System). A iniciativa reúne bancos centrais e órgãos reguladores de todo o mundo com o objetivo de partilhar as melhores práticas e contribuir para a gestão dos riscos ambientais e climáticos no setor financeiro.

Além de integrar a NGFS, o Banco Central do Brasil vem fazendo pesquisas periódicas para identificar a percepção de risco dos agentes do mercado em relação às mudanças climáticas. 

Capa do Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central

No último Relatório de Estabilidade Financeira, publicado em abril, a autarquia revela um aumento da preocupação das instituições financeiras com potenciais efeitos dos riscos climáticos.

Uma das conclusões da pesquisa apresentada no relatório é que os riscos físicos tendem a adquirir relevância no longo prazo. 

Isso se dá, entre outros motivos, porque afetam o sistema financeiro, com danos a ativos e processos produtivos, além de perdas e aumento de custos para os tomadores de recursos e aumento da inadimplência. No foco das preocupações, estão os efeitos decorrentes de secas, escassez de recursos naturais e desertificação. 

Já em relação aos riscos de transição, menos da metade das 83 instituições financeiras consultadas fazem gerenciamento deles, que são transmitidos ao SFN (Sistema Financeiro Nacional) por fatores como mudanças na regulação climática, com potencial aumento de custos para o atendimento de novas diretrizes e aumento da inadimplência. A grande maioria das instituições financeiras faz avaliações de curto prazo, período no qual a percepção do risco de transição sobre os ativos financeiros foi considerada baixa no curto prazo e moderada no longo prazo.

Embora trabalhem com uma grande variabilidade de horizontes, os entrevistados revelaram que utilizam como referência dados contidos em cenários desenhados por entidades globais, análises setoriais e monitoramento de operações e clientes considerados relevantes.

Entre as entidades globais, além da NGFS, foram mencionados relatórios do IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change), recomendações da TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), a Taxonomia Sustentável Brasileira e a régua de sensibilidade da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para avaliar seus clientes quanto ao potencial de riscos climáticos. 

Além da régua de sensibilidade, a Febraban tem um amplo acervo de estudos e diretrizes que abordam diversos instrumentos e normas relacionados ao gerenciamento de riscos climáticos.

Nesse contexto, tendem a adquirir relevância as normas do ISSB (International Sustainability Standards Board), lançadas em meados do ao passado, mais especificamente a IFRS S2, que diz respeito à normatização de divulgações relacionadas ao clima. As diretrizes foram endossadas ainda no ano passado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e passarão a ser obrigatórias a partir de janeiro de 2026.

Mensurar os impactos das mudanças climáticas nos produtos de investimento é uma preocupação que mobiliza reguladores do mercado de capitais e instituições financeiras.