Nas finanças reimaginadas, o protagonismo da IA surge forte

Somada com o Open Finance e a tecnologia blockchain, a inteligência artificial amplia sua pegada no mercado financeiro e de capitais. Uma prova disso foi o protagonismo da tecnologia durante a MoneyConf, uma das trilhas especializadas que fazem parte do conteúdo do Web Summit 2023, realizado em Lisboa, no mês de novembro.
Acompanhamos o evento com uma delegação própria para entender os principais sinais e tendências de mudanças que os especialistas trouxeram para os palcos, e separar os ruídos. Luiz Pires, nosso gerente de Sustentabilidade e Inovação, seguiu as conversas da MoneyConf e resume os principais aprendizados na entrevista a seguir.
"No mercado de crédito, por exemplo, a IA pode fazer uma verdadeira revolução, a partir do momento que os algoritmos de análise – que hoje são bastante limitados – passarem a processar muito mais dados que permitam traçar um perfil financeiro muito mais robusto e detalhado de cada pessoa", diz ele. Confira a seguir.

As principais tendências
"A Money Conf é uma trilha de painéis e debates com foco em finanças que acontece dentro do Web Summit. Mais uma vez, a inteligência artificial foi a bola da vez e as discussões deste ano giraram em torno da transformação que ela pode trazer para o mercado financeiro. A principal expectativa é quanto à personalização dos serviços e produtos, o que seria potencializado não apenas pela IA, mas também pela conjunção de uma série de evoluções tecnológicas que têm transformado o mercado nos últimos anos, a exemplo do open banking, e da tecnologia blockchain, entre outros.
Como todas essas inovações envolvem analisar e administrar um grande volume de dados sensíveis dos clientes, a principal preocupação do setor está em como proteger a privacidade das informações. A chegada da IA traz ainda desafios adicionais, como o controle de riscos, a confiança nas decisões que ela toma e o desenvolvimento de uma agenda regulatória – pauta crucial para a correta implementação dessa tecnologia em qualquer mercado do mundo."
Como a IA impacta o mercado financeiro?
"Um dos principais benefícios esperados para a IA é que ela traga mais inclusão financeira para o mercado de capitais, que poderá alcançar mais pessoas. Isso porque a IA deve possibilitar a análise de um grande volume de dados, o que resultará no que a gente está chamando de hiperpersonalização. Ou seja, será possível oferecer serviços e produtos cada vez mais específicos para os clientes, possibilitando que eles tenham soluções financeiras muito mais adequadas ao seu momento de vida e de sua situação financeira.
No mercado de crédito, por exemplo, a IA pode fazer uma verdadeira revolução a partir do momento que os algoritmos de análise – que hoje são bastante limitados – passarem a processar um volume maior de dados que permitam traçar um perfil financeiro muito mais robusto e detalhado de cada pessoa."
Criptoeconomia, o que esperar?
"A grande expectativa no mundo cripto é a possível aprovação dos primeiros ETFs (Exchange Traded Funds, ou fundos de índice) de bitcoins nos Estados Unidos. Se confirmada, a novidade derrubará a dificuldade de acesso ao investimento em cripto, que hoje demanda um conhecimento tecnológico mínimo e é um dos principais problemas para a compra desse tipo de ativo.
Ao serem incorporados aos ETFs, os bitcoins passam a se equiparar a outros ativos. Isso significa que a medida deve ajudar a popularizar as criptomoedas e a ampliar a atratividade desses ativos digitais, já que estariam associados a um produto financeiro conhecido, que seria ofertado por instituições financeiras tradicionais e reguladas no mercado de capitais."
Regulação da IA e seus impactos
"A regulação é necessária para fomentar o uso da IA de forma segura, mas há uma preocupação geral sobre como os governos devem lidar com essa questão. Um dos motivos é pela diferença de velocidade com que essas duas iniciativas se desenvolvem: enquanto a IA tem avançado muito rapidamente, a elaboração de regras demanda mais tempo.
Outro ponto de atenção é o receio de que a regulação seja tão restritiva que impeça a evolução da inteligência artificial e acabe por limitar essa tecnologia. Segundo Andrew McAfee, pesquisador do MIT, o ideal seria acompanharmos a evolução da inteligência artificial sem barreiras – quando fosse identificado um risco real, aí, sim, a regulação entraria em jogo."
Para o seu radar
- Em um dos debates da MoneyConf, investidores apontam que o mercado prefere ter centauros (fintechs que geram US$ 100 milhões de receita anual recorrente e têm lucro) do que unicórnios - fintechs avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão, sem certeza de receita. Confira o relatório preparado pela Money 20/20 sobre a nova era dos centauros.
- "Inclusão financeira não é sobre ter uma conta bancária. É sobre ter acesso ao crédito e poder usá-lo para melhorar sua vida e a da sua família", diz Nora Shaker, founder e secretária geral da associação egípcia de fintechs, em um dos painéis da MoneyConf.
- Como a fintech inglesa Abound está deixando de lado o modelo tradicional de scores de crédito e apostando na inteligência de dados do Open Banking e em sua própria tecnologia de smart lending. Gerald Chappell falou, na MoneyConf, sobre a nova era das finanças.
Sinais de fumaça no horizonte…