Agro deve atrair investidor estrangeiro para o mercado de capitais, prevê Anbima
Desafios e perspectivas para o financiamento do agronegócio com instrumentos privados foi um dos temas discutidos no evento “O Agro e o Mercado de Capitais”, realizado neste mês em São Paulo
Os desafios e as perspectivas para o financiamento do agronegócio com instrumentos privados, complementando os recursos públicos que estão ficando mais escassos pelo tamanho do setor, foi um dos temas discutidos no evento “O Agro e o Mercado de Capitais”, realizado por IBDA (Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio), CVM, IPA (Instituto Pensar Agropecuária), Anbima e B3 neste mês em São Paulo.
No painel sobre a inovação e a evolução do mercado financeiro no agronegócio, a ampliação dos investimentos externos foi um dos caminhos apontados para captar mais recursos para o setor. De acordo com Flavia Palacios, diretora da Anbima e coordenadora da Comissão de Securitização da associação, o agronegócio reúne as características necessárias para atrair o capital estrangeiro para o Brasil, com o potencial de “puxar a fila do investidor estrangeiro para as operações no mercado de capitais aqui.”
“O agro tem operações de renda fixa com prazos relativamente curtos, prazos de safra, e isso atrai aquele investidor que quer testar, entender como essa dinâmica [do mercado brasileiro] funciona”, explicou. Outro ponto a favor é o câmbio, já que o setor é um grande exportador. “O agro no Brasil já tem um hedge natural ao dólar, já é naturalmente dolarizado, então isso tira o risco operacional e facilita essa operação”, afirmou. A crescente demanda mundial por títulos sustentáveis representa mais uma vantagem competitiva, na sua avaliação, já que “essa oferta, globalmente falando, não é tão grande quanto o potencial que a gente tem no agro do Brasil”.
“Então quando eu falo que é porta de entrada, eu acho que a gente tem os pontos aqui para o investidor decidir ‘botar o pé’. Uma vez que ele ‘botou, o pé’, ele começa a entender como é a dinâmica de juros no Brasil, a nossa inflação, como ela se comporta, entende a questão da moeda e eventualmente se anima para expandir esse investimento para outros setores”, completou.

O painel teve ainda as análises de Moacir Teixeira, sócio fundador da Ecoagro, Leonardo Rezende, superintendente de Empresas e Mercado de Capitais da B3, José Alves Ribeiro Júnior, sócio do escritório VBSO Advogados, e Bruno Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócio da CVM, que comentou sobre a nova regra de crowdfunding de investimento que está em consulta pública.
A edição da norma sobre as ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários de emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, realizadas com dispensa de registro por meio de plataformas eletrônicas de investimento participativo, vai substituir a Resolução CVM 88 e é uma das prioridades previstas pela autarquia para 2026.
“A gente reconheceu dentro do crowdfunding a pessoa física produtora rural como emissora de valores mobiliários, então vai ser possível que o produtor rural coloque na plataforma de crowdfunding sua CPR [Cédula de Produto Rural]”, comentou, elencando em seguida algumas limitações para as operações previstas na norma. “É um primeiro passo. A gente quer atrair bons produtores rurais, estruturados, que tenham governança, que tenham demonstrações financeiras auditadas, para tentar aproximar esse mundo do mercado de capitais do produtor rural.”
O evento faz parte do projeto AgroCapitais, iniciado em 2022 com o objetivo de conectar agentes das cadeias produtivas do agronegócio e investidores, apresentando novas fontes de financiamento por meio do mercado de capitais. As iniciativas para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, ampliando a interlocução com novos players e outras entidades, fazem parte do Anbima em Ação, um conjunto de medidas que elegemos como prioritárias para o biênio 2025/2026.
Uma das ações na frente educacional foi o lançamento de um guia técnico para estruturadores de títulos com indicações de informações mínimas para análise do produtor rural. O objetivo da publicação é padronizar as informações solicitadas para dar agilidade e mais clareza a operações no mercado de capitais que contem com o produtor rural como originador dos créditos.
Conheça o ANBIMA em Ação
O ANBIMA em Ação é o conjunto das principais iniciativas da Associação para este e o próximo ano. Esse planejamento estratégico foi elaborado a partir de uma ampla consulta aos nossos associados, novos players, reguladores e lideranças da ANBIMA que resultou em uma agenda apoiada em três pilares: representatividade, inteligência de dados e redução do custo de observância. Além das iniciativas sob estes três pilares indicados na consulta, o ANBIMA em Ação 2025-2026 inclui temas que já estão em andamento, seja porque são estratégicos para o mercado ou para o futuro da Associação: sustentabilidade, investimento internacional, finanças digitais, inteligência artificial e educação. Confira cada uma aqui.