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2023#04: Direto de Tóquio: os destaques do PRI in Person
Regulação Internacional

2023

#04: Direto de Tóquio: os destaques do PRI in Person

Da intenção para a ação: hora de acelerar a implementação de aspectos ESG

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A crise climática e o aquecimento global ampliam seu impacto no planeta, ameaçando a vida na terra e a estabilidade do sistema financeiro. O mercado financeiro e de capitais precisa acelerar e passar "da intenção para a ação", para o cumprimento dos compromissos do Acordo de Paris. Ainda é necessário corrigir a desconexão que persiste entre o dever fiduciário, que é de longo prazo, e a visão de curto prazo do mercado na tomada de decisão. Esse foi o tema da conferência PRI in Person, realizada entre os dias 3 e 5 de outubro, em Tóquio, no Japão, que contou com a participação de membros da ANBIMA. 

O PRI in Person é um dos maiores eventos globais para a comunidade de investimento responsável. Organizada pelo PRI (Princípios para Investimento Responsável), grupo resultante da iniciativa da ONU para promover a adoção dos fatores ESG no mercado financeiro de investimentos, a conferência reuniu este ano quase 1,4 mil representantes de 52 países para discutir como garantir uma transição justa e eficaz para a economia de baixo carbono, por meio do direcionamento de investimentos.

"O evento foi uma chamada para as instituições agirem, saindo do compromisso, que já existe, para a ação no direcionamento de capital para uma economia sustentável. Nesse contexto, foi muito destacada a importância de se acelerar ações para o combate às mudanças do clima considerando o aspecto social. Também foi bastante ressaltada a necessidade de colaboração forte entre o público e o privado, para garantir o financiamento necessário para não deixar ninguém para trás", afirma Cacá Takahashi, vice-presidente da ANBIMA e coordenador da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.

Outro ponto destacado por ele foi a biodiversidade como uma presença constante nas discussões do evento, sempre ressaltando a sua alta conexão com o clima: "Não vamos conseguir falar sobre as questões climáticas se não tratarmos da biodiversidade, porque estão profundamente conectadas. A transição para uma economia de baixo carbono passa pela conservação e restauração da natureza, assim como a resiliência climática é fundamental para reverter a perda de biodiversidade. Esse ponto foi ressaltado no evento para destacar a importância de ter governança, gestão e reporte de riscos e oportunidades relacionados à natureza", completa.

É nesse contexto que entra a TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures), um conjunto de recomendações e orientações para a ação e divulgação de riscos, oportunidades e impactos relacionados à natureza.As recomendações da TNFD dão às empresas e instituições financeiras, de todos os tamanhos, um quadro de gestão e divulgação de riscos para identificar, avaliar, gerir e, quando apropriado, divulgar questões relacionadas à biodiversidade e capital natural.

Sobre a TNFD, é importante lembrar que ela não é uma reinvenção, não parte do zero. Ela tem como base um framework muito consistente, e muito bem elaborado, que é a TCFD (sigla, em inglês, para Força-tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas)”, explica Takahashi.

No contexto da incorporação de informações sobre riscos e oportunidades associadas ao clima e à natureza, TCFD e TNFD são agora as principais ferramentas para o mercado financeiro e de capitais, e para as empresas, criarem os reportes associados às suas atividades de negócio e carteiras. No quadro abaixo, elaborado pela TNFD, é possível ver onde os dois frameworks entram na jornada dos relatórios.

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O imperativo dos frameworks

A importância das empresas implementarem frameworks de sustentabilidade para produzir relatórios ESG que vão garantir a interoperabilidade e conformidade com as regulações que entram em vigor esteve presente nos painéis do PRI in Person. Um dos principais motivos é o fato de que, ao sincronizarem seus relatórios financeiros com a regulação, as instituições financeiras, e as empresas de todos os tipos, se habilitam a oferecer investimentos e a receber capital para financiar a transição para a economia de baixo carbono. "Para os trilhões de dólares em custos da transição, há, do outro lado, dezenas de trilhões de dólares para investimentos", diz Takahashi.

É fundamental lembrar, por exemplo, que as normas IFRS S1 e IFRS S2, lançadas em junho pelo ISSB (International Sustainability Standards Board)incorporam integralmente o framework TCFD, e têm 11 recomendações para orientar as empresas a incluir e mensurar os impactos do clima nos seus relatórios financeiros. 

Importante destacar que o Brasil é o primeiro país a adotar o padrão global de reporte do ISSB, e os padrões IFRS S1 e S2 em arcabouço regulatório (Resolução CVM 193).  As normas passam a ser obrigatórias para empresas a partir dos exercícios sociais iniciados em, ou após, 1º de janeiro de 2026, para padronizar a divulgação de informações climáticas e de sustentabilidade.

No dia 12 de outubro, a TCFD lançou seu sexto e último relatório sobre o status do framework, sinalizando que ainda há muito trabalho a ser feito: nos relatórios do ano fiscal de 2022, 58% das empresas divulgaram informações relacionadas ao clima alinhadas a pelo menos cinco das 11 recomendações do TCFD. Esse número está bem acima dos 18% apontados em 2020. No entanto, apenas 4% estavam alinhados com todas as 11 recomendações do framework.

A TNFD segue pelo mesmo caminho. As 14 recomendações do frameworksão consistentes com as normas globais de sustentabilidade do ISSB e com a abordagem de materialidade de impacto utilizada pela GRI (Global Reporting Initiative) e incorporadas na ESRS (Normas Europeias de Relatórios de Sustentabilidade). E estão apoiadas sobre os quatro pilares da TCFD: governança; estratégia; gestão de riscos e de impacto; e métricas e metas.

Hora de decifrar a natureza

"O risco da natureza já está em nossos fluxos de caixa e balanços patrimoniais hoje. Deixar isso de lado é ruim para os negócios, para as oportunidades que você pode estar perdendo e certamente é ruim para o planeta. Com a TNFD, agora temos uma ferramenta para nos ajudar a aproveitar a natureza, e não destruí-la, para reposicionar negócios e portfólios e aproveitar as oportunidades do futuro", declarou David Craig, co-chair da TNFD, durante um painel específico sobre o framework no evento.

Para uma empresa, incorporar o capital natural envolve pensar sobre como seus negócios impactam, ou são impactados, pela natureza. O framework, diz Craig, simplifica e traz para a mesa questões associadas à biodiversidade que antes não estavam quantificadas. "Um fabricante de microprocessadores, por exemplo, requer centenas ou milhares de litros de água por dia. Uma cadeia de supermercados pode, indiretamente, promover desmatamento por conta de fornecedores na sua cadeia de suprimentos. Precisamos entender como essas dependências e impactos se traduzem em riscos e oportunidades financeiras e como elas afetam os portfólios", explica.

Para os players do mercado financeiro ou de capitais, a tarefa é identificar as atividades das empresas investidas que impactam, e são impactadas, pela biodiversidade, e definir as suas estratégias de investimento, alocação de carteira e gestão de risco considerando esses pontos. No painel, Snorre Gjerde, líder de administração de investimentos no Norges Bank Investment Management, explicou que o fundo acompanha a TNFD desde o início, para identificar o impacto que pode trazer para as matrizes de precificação. "Agora que as recomendações se consolidaram, esperamos que elas nos levem a uma plataforma sólida, que possa medir e apoiar nossos esforços para chegar a 2050 com as 9 mil empresas do nosso portifólio alinhadas ao Net Zero".

Takahashi conta que "foi muito interessante ver os exemplos de casos apresentados no evento, que demonstraram claramente como é possível medir os riscos e as oportunidades relacionadas à biodiversidade em atividades empresariais diferentes". Um dos exemplos foi apresentado por Hirotaka Hideshima, conselheiro de estratégia global do The Norinchukin Bank, que atua primariamente com clientes da área de pesca e agricultura. 

O banco começou em 2022 um processo de comparação experimental das atividades dos clientes que dependem da biodiversidade e seu impacto financeiro potencial (gráfico abaixo). "Estamos tentando descobrir setores prioritários para nós e setores que não deveriam ser prioritários. As próximas etapas serão trabalhar na cadeia de valor, tendo compromissos com nossos clientes, e tentar detalhar coisas como recursos hídricos e biodiversidade, mas esse é apenas um ponto de partida", explica.

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O importante é começar logo

"A principal mensagem que ficou do evento é que não devemos esperar o ótimo para começar a incorporar riscos e oportunidades relacionados ao capital natural no portfólio. Isso diz respeito, principalmente, à obtenção de dados, mas também aos frameworks, à transparência, materialidade e prestação de contas. Parece que a gente sempre está na expectativa do ótimo para atuar", diz Takahashi. Dados e informações são questões dinâmicas, acrescenta, e essa mudança constante pode ser incorporada ao longo do tempo às ferramentas que as empresas estão montando.  

"Para as instituições financeiras, o que vai mudar é que terão uma informação qualitativamente melhor para fazerem uma avaliação mais adequada da companhia com relação às suas práticas de sustentabilidade, a partir dos relatórios de impacto climático e de biodiversidade. Isso, na minha opinião, gera confiança e base para uma melhor tomada de decisão. E gera histórico, porque vai ser possível observar ao longo do tempo a evolução dos esforços das empresas", completa o vice-presidente da ANBIMA.

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