Estudo global identifica efeitos financeiros de riscos ligados à natureza para empresas
Um estudo lançado na London Climate Week pela TNFD (Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza), pela Universidade de Oxford e pela Global Canopy descobriu que as evidências dos efeitos financeiros de riscos relacionados à natureza para as empresas e a economia são extensas e podem ser importantes informações para investidores.
A partir de uma ampla revisão de como esses riscos podem ter efeitos financeiros materiais, o documento aponta a necessidade de orientação clara, consistente e prática dos reguladores para facilitar avaliações robustas do tema.
Em um contexto de mobilização internacional para o financiamento climático, o estudo contribui para a compreensão de como esses riscos afetam os fluxos de caixa, o custo e o acesso ao capital. O levantamento ajuda a identificar lacunas nas evidências da materialidade financeira e compartilha insights de instituições financeiras sobre práticas atuais de avaliação de riscos, desafios e lições aprendidas.
A identificação de impactos e riscos sob a perspectiva da dupla materialidade é um dos temas da Jornada Rumo à COP 30, iniciativa da parceria entre Anbima, CNSeg e Febraban, com apoio institucional da ABVCAP, Amec, BID, B3, Fin, Gfanz, Pacto Global, PRI e Unep-FI.
Evidências mais fortes de efeitos financeiros materiais
Os resultados abrangem vários setores, escalas, riscos, horizontes temporais e tipos de efeitos, influenciando as decisões dos investidores e a alocação de capital, mas as evidências variam de acordo com o fator determinante da perda natural.
As evidências com maior impacto envolvem escassez hídrica, responsabilidade em efeitos de degradação ambiental e perdas reputacionais e políticas com reflexos sobre o patrimônio e ativos das empresas.
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Despesas maiores de capital e operacionais; interrupção ou paralisação operacional; efeito da internalização do estresse hídrico na análise de crédito
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Impactos no valor da empresa decorrentes do risco de responsabilidade
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Litígios resultantes de efeitos da poluição, degradação marinha, degradação ambiental mais ampla e multas
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Efeitos negativos no valor da empresa, despesas de capital e operacionais, interrupção operacional e ativos ociosos
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Fonte: TNFD/Environmental Change Institute-Oxford University
De acordo com o estudo, as instituições financeiras geralmente estão mais avançadas na aplicação de métodos quantitativos para fazer essas análises; já as empresas de outros segmentos tendem a usar métodos qualitativos.
Diagnóstico
O mapeamento mostrou que a limitação de dados e as divulgações corporativas inconsistentes exigem que as instituições financeiras recorram a indicadores proxy e a avaliações qualitativas da materialidade financeira relacionada à natureza. Como consequência, além de pouca precisão, dados específicos das empresas não são facilmente comparáveis.
Outro ponto de atenção é a diferença entre riscos ligados à natureza e ao clima. Os primeiros não têm um indicador único e amplamente aceito, de modo que é preciso recorrer a um conjunto de indicadores para criar uma imagem abrangente, tornando as abordagens quantitativas mais desafiadoras. Já riscos os climáticos contam com métodos quantitativos vinculados às emissões de gases de efeito estufa e à precificação do carbono.
Principais recomendações
O documento reconhece que os desafios de avaliar a materialidade financeira são significativos, especialmente na hora de quantificar efeitos financeiros. Por isso, seria necessário adotar parâmetros e modelos padrão com orientação clara e consistente de reguladores que apoiem essas avaliações de risco. Isso deve incluir estruturas, métricas e cenários padronizados, propõem os pesquisadores.
“Os riscos relacionados à natureza são cada vez mais reconhecidos como financeiramente materiais e espera-se que se tornem ainda mais no futuro próximo, impulsionados por pressão regulatória e pelas expectativas dos investidores", alerta o documento. Portanto, é essencial adotar abordagens integradas para avaliar riscos climáticos e de natureza, evitando que sejam subestimados devido à forte interrelação entre eles.
Para explicitar a dependência da natureza no portfólio corporativo e financeiro, os pesquisadores propõem que os provedores de dados melhorem a transparência na cobertura de impactos, dependências e riscos relacionados à ela nos produtos de dados.
Outra recomendação é que as companhias desenvolvam capacidades internas para avaliar os efeitos financeiros dos riscos que resultam de suas dependências e impactos na natureza. Um caminho sugerido é usar abordagens estruturadas, com a TNFD LEAP.
Sobre o mapeamento
A pesquisa se baseia em três fontes principais: uma análise do cenário usando um banco de dados de mais de 600 entradas de 360 fontes; entrevistas e análise de divulgações públicas de empresas e instituições financeiras; e engajamento contínuo com as partes interessadas, incluindo um workshop online para troca de avaliações.