A revolução quântica é o grande buzz

Charina Chou, COO do Google Quantum AI, e o chip quântico Willow (Imagem: YouTube)
A oferta comercial de computadores quânticos ainda tem inúmeros obstáculos a ultrapassar nesta próxima década. Mas isso não impediu que computação quântica se tornasse uma das buzz words da SXSW 2025. Foram 26 painéis sobre o tema, com a presença de representantes de grandes players de tecnologia (entre eles Amazon, Google, IBM, Microsoft), cientistas, pesquisadores e até representantes da ONU (Organização das Nações Unidas).
Talvez a explicação dada pela diretora de operações da Google Quantum AI, Charina Chou, possa ajudar a entender. No painel Quantum Computing—The What, Why, and When, Chou foi categórica: computadores quânticos podem solucionar problemas que supercomputadores e IA não podem resolver. Eles tornam possível executar tarefas que seriam impossíveis para a chamada computação clássica.
Enquanto os computadores clássicos processam as informações em bits, de forma binária (0 ou 1), os computadores quânticos utilizam mecânica quântica e qubits para armazenar e processar mais informação, porque trabalham com os dois estados (0 e 1) simultaneamente. “Imagine um mundo onde conseguimos projetar materiais perfeitos para cada aplicação, sem precisar testar milhares de combinações em laboratório", disse Chou, citando a possibilidade de revolucionar campos como a cura do câncer, mercado financeiro e ciência dos materiais.
Hype versus progresso real
Diferente da IA, que agora protagoniza conversas "mão na massa", a computação quântica continua sendo um campo científico complexo, com casos de uso comercial limitados e desafios técnicos significativos. As empresas envolvidas ainda não conseguiram domar a mecânica quântica e "empacotá-la" na forma de processadores e computadores totalmente estáveis.
Mas é preciso separar o hype da realidade, enfatizou André König, CEO da Global Quantum Intelligence e presidente da OneQuantum, uma comunidade científica global com mais de 15 mil membros. Em sua apresentação, que teve o título sugestivo de Why Quantum is Now Suddenly in the News, König argumenta que boa parte do barulho, que vem das empresas envolvidas nesse mercado, deriva da necessidade de manter a chama acesa para investidores e para captar clientes. "Isso não é necessariamente uma coisa ruim, mas o grande indicador serão casos de uso real, e por enquanto são muito poucos".
Quando se trata de computação quântica, dois itens se destacam para o avanço do mercado: investimento público e privado contínuo em pesquisa e desenvolvimento, e um ecossistema de inovação que vá além das mesmas empresas de tecnologia dominantes. No primeiro caso, König menciona 33 programas de pesquisa sustentados por governos em diferentes países que já receberam mais de US$ 70 bilhões em financiamento. No segundo caso, destaca a importância de tornar mais visível um ecossistema global de mais de três mil startups de computação quântica. Trazer mais participantes diversos para o campo deverá acelerar o desenvolvimento, segundo ele.
Destaques das conversas quânticas
- A revolução da computação quântica será uma transição gradual que vai redefinir os parâmetros do possível, diz o CEO da IBM, Arvind Krishna. Ele prevê para os próximos cinco a dez anos "soluções quânticas se tornando parte dos fluxos de trabalho das empresas, não mais como experimentos, mas como ferramentas produtivas”. Krishna enfatizou a necessidade de investimento e capacitação para garantir que a tecnologia seja acessível e escalável.
- O Google está usando computação quântica para o desenvolvimento de novos algoritmos para simulação de materiais, que podem acelerar a criação de baterias mais eficientes, conta Charina Choo. Ela enfatizou que a colaboração entre o setor acadêmico e organizações é essencial. “A revolução quântica será um esforço conjunto – ninguém construirá isso sozinho”, disse.
- “A computação quântica pode simular interações atômicas com precisão sem precedentes, o que é essencial para avançar na criação de novos materiais”, disse Trevor Lanting, executivo da D-Wave, em sua conversa com Alejandro Lopez-Bezanilla, do Los Alamos National Laboratory.
- Vêm aí avanços importantes em farmacêutica, logística e segurança de dados, apontaram Jeannette Garcia, gerente de pesquisa de aplicações quânticas na IBM Research, e Lara Jehi, professora de neurologia da Cleveland Clinic, no painel Preparing for a Quantum Leap.
- A ideia de que a computação quântica vai criar uma “nova ordem” com implicações geopolíticas é bastante real. “O dia em que a computação quântica quebrar a criptografia atual será um divisor de águas para a segurança digital”, alertou Ross Coffman, tenente-general aposentado do Exército dos EUA.
Histórias e tendências da SXSW 2025
- As CDBCs (moedas digitais de banco central) tiveram seu momento de debate no SXSW. No painel "The human rights risk of Central Bank Digital Currencies", um dos pontos discutidos foi a adoção das moedas por parte de consumidores e empresas. É um dilema "ovo e galinha": consumidores temem o potencial de vigilância governamental sobre suas transações financeiras e, sem consumidores, o mercado não tem estímulo para adotar. Uma das soluções propostas é oferecer benefícios tangíveis para ambos os lados da equação que superem o medo do uso.
- A corrida para capturar CO₂ do ambiente foi tema de conversas na SXSW 2025. Mina Zarbarian, CEO da startup Carbonova, mostrou como pretende remover as moléculas de carbono dos gases para criar um material com propriedades mecânicas e térmicas valiosas, que pode ser produzido de forma barata e limpa.
- Bryan Johnson, o investidor e empreendedor que quer viver para sempre com corpo de 18 anos, anunciou que vai investir no sequenciamento genético de 20% do "foodome" (os alimentos que compõem 80% da dieta básica nos EUA). O objetivo é identificar a presença de toxinas (metais pesados e microplásticos) e criar um banco de dados público com o mapa dos alimentos testados.