A tokenização chega à torcida
O advogado Guilherme Macêdo, sócio e head da filial paulista do escritório Marcello Macêdo Advogados, é especialista em um tema bem conectado com o momento: os fan tokens, utility tokens (tokens de utilidade) usados por clubes esportivos para gerar receita e fidelização de sua base de torcedores. Tão especialista que está criando uma variação dos tokens, batizada de fan pass.
No Brasil, um estudo feito pelo escritório de advocacia e a Win The Game (uma joint venture entre BTG Pactual e a Fix Delivery Partners), mostra que a aposta dos grandes clubes de futebol em fan tokens e NFTs é cada vez maior. O total de contratos entre entidades desportivas, incluindo os grandes clubes das séries A e B, e empresas da “criptoeconomia” locais já chega a 52.
O estudo estima ainda que a capitalização de mercado atual dos fan tokens, de clubes como Flamengo, Corinthians, São Paulo, Vasco, Atlético Mineiro e Internacional, soma R$ 2,2 bilhões.
Guilherme sinaliza que se trata de um mercado muito promissor, com tendência de crescer para outros esportes, como vôlei, basquete e Fórmula-1, mas reforça a recomendação de que é preciso investir em regulamentação e transparência para garantir a segurança tanto dos clubes quanto dos torcedores.
Torcida digitalizada
“O fan token é um token de utilidade, ou seja, não é uma moeda, mas sim um token que, quando adquirido, dá acesso a produtos e serviços exclusivos do clube, aqueles produtos e serviços que a gente costuma dizer que o ”dinheiro não paga". A ideia é revolucionar a forma de interação entre o clube e seus torcedores por meio de um ecossistema digital de monetização, ofertando os tokens para o mercado.
Esses tokens de utilidade não são veículos de investimento, não visam lucro na operação. O que temos é o que chamamos de possibilidade de valorização desse token, e isso vai depender do interesse das pessoas de participarem daquele ecossistema de engajamento. Quanto mais o clube ou instituição entrega experiências que interessem aos torcedores, mais pessoas vão querer participar daquele ecossistema e o preço vai subir."
A regulação chega em boa hora
Nem atrasada, nem adiantada. Na hora certa. É assim que Bernardo Srur, diretor-executivo da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), define a aprovação do marco regulatório dos criptoativos, pela Câmara e Senado, que acaba de receber sanção presidencial.
A ABCripto, fundada em 2018, reúne atualmente 25 empresas que trabalham associadas a esse ecossistema. Nessa conversa, Bernardo comenta sobre o marco regulatório e fala sobre os números e dados do mercado que foram apurados pela ABCripto, em parceria com a LCA Consultores, no Panorama Setorial da Criptoeconomia no Brasil.
Chegando na hora certa
"Acredito que o Brasil acertou o timing da aprovação desse marco regulatório. Não estamos nem adiantados nem atrasados, estamos exatamente no ponto que deveríamos estar. Os legisladores acertaram, a sociedade acertou, o poder executivo acertou.
O marco regulatório traz não só uma segurança em termos de prestação de serviços, mas também deve destravar investimentos. Nós acreditamos que existem alguns milhões de reais aguardando para serem investidos na criptoeconomia e que não avançam porque faltava segurança jurídica em relação aos criptoativos.
Por que ele traz segurança? Primeiro, porque o projeto de lei que foi aprovado, define muito bem os papéis e responsabilidades de todos os envolvidos nesse ecossistema, então esse já é o primeiro passo. Não é uma definição brasileira, é uma definição internacional apoiada pelo Grupo de Ação Financeira (GAFI), por exemplo. Segundo, ele altera a lei de prevenção à lavagem de dinheiro e fraude justamente para incluir criptoativos no rol de ativos sob observação, e as suas empresas como obrigadas a cumprir regras."
Editado por The Shift