Na geografia da criptoeconomia, mercados emergentes dominam

Das pouco mais de 8 bilhões de pessoas que habitam o planeta, a estimativa mais recente da Triple A é que 5,2%, ou 425 milhões de pessoas detêm criptomoedas, participando de um mercado que nesse momento vale pouco mais de US$ 1 trilhão. Desde a criação do Bitcoin até agora, pelo menos 1 bilhão teve contato com criptomoedas em algum momento.
Entender a geografia da criptoeconomia é vital para prever como as DeFi (finanças descentralizadas) podem evoluir. Calcular esse impacto apenas com os volumes de transação desses ativos não é suficiente para estimar como a criptoeconomia se aproxima da população de cada país. No momento em que falamos de blockchain, regulações e CBDCs (moedas digitais de bancos centrais), como o Drex brasileiro, a informação é ainda mais valiosa.
Esse é o objetivo do estudo Geography of Cryptocurrency Report, da consultoria global de blockchain Chainalysis, que terá a quarta edição publicada ainda em outubro. Ela analisa o movimento "popular" da criptoeconomia – ou seja, os países com mais pessoas investindo em criptomoedas usando plataformas descentralizadas para as transações.
O relatório incorpora o Global Crypto Adoption Index, um ranking de uso global de criptomoedas, medindo o pulso da criptoeconomia em 154 países, incluindo o Brasil. O estudo avalia e classifica os países usando dados como paridade do poder de compra do país, número de usuários, volume de buscas e tráfego da web. Esses dados são combinados em cinco subíndices, que incluem valor da criptomoeda recebido no país, volume de operações em bolsas centralizadas; trocas P2P (peer-to-peer), uso de protocolos DeFi e transações DeFi no varejo.
Conclusões importantes
Uma prévia do ranking publicada pela consultoria coloca o Brasil em 9º lugar. A Índia está no topo dos Top 20 países, seguida da Nigéria em segundo. Na comparação com os rankings de 2022 e 2023, houve uma dança das cadeiras: saíram da lista de Top 20: Quênia, Equador, Colômbia e Nepal. Entraram na lista: México, Bangladesh, Japão e Canadá. Vietnã e Filipinas, que estavam em primeiro e segundo lugares no ano passado, caíram para 3.º e 6.º lugares.
Nessa lista, entram ainda outros dois países da América Latina: Argentina (15º) e México (16º). O Brasil caiu duas posições quando comparado ao estudo de 2022, mas mantém a liderança na AL. Há mudanças importantes no desempenho nacional: aumento nas negociações P2P, subindo do 113º lugar em 2022 para 15º em 2023. Mas tivemos queda no valor recebido via DeFi no varejo (7º para 11º), e queda no valor DeFi (da 8ª para a 11ª posição) Em serviços de corretagem, o Brasil desceu de 7º para o 9º lugar.
O primeiro ponto a observar (confira o gráfico abaixo) é que a adoção global caiu 60% desde o segundo semestre de 2021, consequência do inverno cripto e de quebras importantes de confiança, como a falência da exchange FTX.

Embora o declínio preocupe, é importante observar o fenômeno da crescente popularidade da criptoeconomia na região da Ásia Central e Meridional e a Oceania (CSAO). Com seis dos dez principais países, são o grupo que puxa a fila da adoção das criptomoedas. Em volume bruto de transações, o CSAO é o terceiro maior mercado, com pouco menos de 20% das transações globais, atrás apenas da América do Norte e da Europa.
Subida dos emergentes
A adoção global diminuiu, mas não em todos os lugares. Há um dado muito interessante na pesquisa da Chanalysis: quando os 154 países são analisados a partir do critério de GNI (Gross National Income) per capita do Banco Mundial, nos países de renda média baixa (LMI) a recuperação foi mais acentuada e mais rápida, e é a única categoria de países cuja adoção popular total permanece acima de onde estava no terceiro trimestre de 2020 (linha amarela do gráfico abaixo).

O movimento, segundo o estudo, pode ser extremamente promissor para as perspectivas futuras da criptoeconomia:
- Os países LMI são frequentemente países em ascensão, com indústrias e populações dinâmicas e em crescimento, muitas delas tendo vivenciado um desenvolvimento econômico significativo nas últimas décadas que a tirou do grupo de baixos rendimentos.
- 40% da população mundial vive em países LMI (é a maior categoria). "Se os países LMI são o futuro, então os dados indicam que a criptoeconomia será uma parcela importante desse futuro", de acordo com o estudo.
- A adoção institucional – impulsionada principalmente por organizações em países de alta renda – continua a ganhar força mesmo com o inverno cripto.
- Isso desenha um quadro promissor de futuro, se os dois movimentos –adoção de criptomoedas na alta e na média renda – se mantiverem, satisfazendo as necessidades dos indivíduos em ambos os segmentos.
Mapeando os super ricos em cripto
Outro relatório feito pela gestora de investimentos Henley & Partners, em parceria com a New World Wealth, reuniu dados e estatísticas inéditos, entre eles o número de pessoas que fizeram fortunas investindo em criptomoedas e o ranking dos países que se abriram para a entrada desses investidores.
Segundo o relatório The Crypto Wealth Report, das 425 milhões de pessoas que participam da criptoeconomia, praticamente metade – 210 milhões – possuem Bitcoins.
O número de milionários do cripto aumentou em 76 mil pessoas entre janeiro e junho de 2023 por conta da alta do valor do Bitcoin, que vem se recuperando do "inverno" de 2022. No total, a "liga dos super-ricos em cripto" inclui 22 bilionários e 88.200 milionários.
O relatório também gerou um ranking com 26 países, classificados a partir de seis parâmetros – adoção pública, adoção de infraestruturas, inovação e tecnologia, ambiente regulatório, fatores econômicos e facilidades fiscais – que oferecem um ambiente favorável para investidores em criptoativos.
Singapura assume a primeira posição no ranking, com uma pontuação de 50,2 em 60 (gráfico abaixo). A lista dos top 10 inclui Suíça, em segundo lugar, seguida de Emirados Árabes Unidos, Hong Kong, Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Canadá, Malta e Malásia.
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