O futuro AI-Driven já começou

Ian Beacraft, CEO da Signal & Cipher (fotograma YouTube)
A inteligência artificial está em todo lugar — alimentando as ferramentas que usamos diariamente, moldando indústrias e influenciando o mercado financeiro. Mas, do ponto de vista social e econômico, os modelos que usamos hoje estão apenas arranhando a superfície do imenso potencial da IA para cocriar o futuro que queremos.
Uma das chaves para acelerar esse movimento é mudar o ponto focal. A IA não pode ser medida sob lentes e métricas do passado, como ficou bem claro nos debates sobre o impacto da tecnologia durante o SXSW 2025. Não faltaram especialistas para a discussão: a IA foi tema de 159 painéis na conferência este ano.
Ian Beacraft, futurista e CEO da Signal & Cipher, trouxe a perspectiva da IA multifacetada, com foco em implicações para a força de trabalho e a dinâmica organizacional. Para ele, a habilidade humana mais valiosa para os próximos 10 anos será a adaptabilidade: aprender e aplicar novas coisas constantemente e desaprender hábitos antigos.
Em um mundo no qual conceitos como skill flux (obsolescência de habilidades) e surge skilling (aprendizado ágil) serão mandatórios, Beacraft é taxativo: "as empresas precisam falar de transformação, e não de otimização". Ou seja, não dá mais para adiar as conversas difíceis.
Beacraft chamou a atenção para quatro pontos fundamentais desse momento:
- Transição de big data para small data, na qual o foco está na curadoria e no uso de informações específicas, gerando vantagem competitiva.
- Criação de equipes potencializadas pela IA, compostas por especialistas e generalistas.
- Compreensão da natureza multidimensional da inteligência humana. Tanto os especialistas quanto os generalistas precisam reconhecer suas limitações e estar abertos a aprender uns com os outros.
- Uso da IA para amplificar as habilidades humanas em vez de substituí-las. A IA pode ser tanto uma ferramenta poderosa quanto um reforço de desigualdades.
Estamos usando a IA do jeito certo?
Maarten Sap e Sherry Tongshuang Wu, da Carnegie Mellon University, abordaram no painel How To Be a Smarter AI User uma verdade incômoda: a maioria das pessoas está usando a IA de forma errada, especialmente os LLMs (Large Language Models).
O que usuários inteligentes de IA sabem sobre LLMs:
- Não podem ler mentes: os modelos têm dificuldade em inferir a real intenção do prompt. Portanto, crie listas estruturadas em vez de instruções vagas. Pense em “lista de verificação”, e não em “conversa”.
- Alucinam e acreditam na "viagem": tentam passar credibilidade nas respostas citando fontes especializadas e dados inexistentes. No limite, até 50% das informações são falsas. Solução: sempre verifique as saídas de várias fontes.
- São pesadelos de privacidade: vazam informações confidenciais entre 20% e 50% das vezes. Seus dados pessoais já podem estar presentes na base de treinamento deles. Alerta: nunca compartilhe informações confidenciais, verifique antes de compartilhar.
- Parecem que pensam, mas não é verdade: sua linguagem humana cria ilusões perigosas. Até agora, não há nenhuma evidência de consciência humana nos LLMs. Portanto, evite antropomorfizar sistemas de IA.

Mark Cuban, empreendedor e investidor em tecnologia (Foto: Errich Petersen - SXSW divulgação)
Nos painéis, um mapa do momento AI-Driven
- O shark tank Mark Cuban, um dos empreendedores e investidores mais respeitados em tecnologia, foi o escolhido deste ano para o Hall da Fama da SXSW. Dois dias depois, em um painel sobre empreendedorismo, Cuban foi direto: quem empreende deveria passar cada minuto do seu tempo tentando aprender tudo sobre IA. "A IA pode fazer tudo por você. Quaisquer que sejam suas habilidades, a IA pode amplificá-las. Agora, você tem um mentor digital, não importa se você usa Perplexity, Anthropic Claude, ChatGPT, Gemini. Você tem especialistas ao seu dispor."
- “A IA não é mais apenas uma ferramenta, ela está se tornando uma participante ativa de nossas vidas, evoluindo rapidamente de um simples sistema de resposta a comandos para uma agente capaz de interações complexas e autônomas com o ambiente”, comentou o futurista Neil Redding, entusiasta da IA multiagente. O ideal, diz Neil, é que a humanidade invista na relação simbiótica com a IA, levando a inovações e melhorias significativas na qualidade de vida e na eficiência de processos. Do contrário, ela pode ser um elemento destruidor no ecossistema.
- Hoje, a IA está rapidamente concentrando um poder extraordinário nas mãos de algumas empresas e indivíduos por meio da substituição de empregos, do controle da mídia e da vigilância em massa. Isso pode ser extremamente prejudicial para a sociedade e a economia. Esse foi um dos pontos de discussão do painel AI and Power Concentration: Building Tech to Empower Us All, que contou com o advogado Lawrence Lessig, professor da Harvard Law School e um dos idealizadores do Creative Commons.
- 2025 também marca o início da IA física. Se você notou robôs humanoides, carros autônomos e drones inteligentes saindo dos laboratórios de design e entrando em fábricas, residências e ruas, você está vendo os primeiros sinais comerciais desse campo transformador. O painel From Cages to the Real World: The Dawn of Physical AI teve entre os painelistas Sir Tim Berners-Lee, o criador da World Wide Web, e a Dra Andrea Thomaz, CEO da Dilligent Robotics.
- O uso de dados sintéticos está entre as principais tendências para 2025. Na opinião de Oji Udezue, diretor de produtos da Typeform e participante do painel Impact of Simulated Data on AI and the Future, “dados sintéticos são o 'Santo Graal', porque permitem construir a coisa certa mais barata e melhor”.
- O caminho à frente para agentes de IA é cheio de promessas e desafios. Por um lado, oferecem conveniência e eficiência sem precedentes. Por outro lado, requerem atenção sobre os riscos com dilemas éticos, segurança e uso indevido. Uma das conclusões do painel AI Agents and the Future of Human Collaboration é que agentes de IA não serão apenas ferramentas - eles se tornarão parceiros na formação de uma nova era de colaboração homem-máquina.