<img height="1" width="1" style="display:none" src="https://www.facebook.com/tr?id=1498912473470739&amp;ev=PageView&amp;noscript=1">
  • Empresas fiscalizadas.
  • Trabalhe Conosco.
  • Imprensa.
  • Fale Conosco.
    Português Português (BR)

Publicações

Consulta
2022#09: O mundo compartilhado e descentralizado
Regulação Internacional

2022

#09: O mundo compartilhado e descentralizado

O mundo descentralizado

Em 2021, no meio da pandemia, a empreendedora Silvia Valadares decidiu transformar o isolamento obrigatório em um período sabático diferente. Foi-se embora para sua casa em Recife, sua terra natal, e durante 9 meses fez canoagem pelo Rio São Francisco e pelos mares ao redor. A temporada rendeu também uma análise ampla sobre DeFi e Open Finance, que se transformou em um dos capítulos do livro “Brasil Fintech”, um projeto organizado por Jihane Halabi, Mareska Tiveron e Bianca Lopes, que reúne artigos de 20 brasileiras, feras em fintechs, mercado financeiro e tecnologia.

De volta a São Paulo, Silvia, que é uma das pioneiras em corporate venture no mercado brasileiro - liderou por oito anos na Microsoft Brasil a versão local do BizSpark (agora Microsoft for Startups), por onde passaram mais de 6 mil negócios - e empreendedora (criou duas startups usando tecnologia blockchain), assumiu o cargo de diretora na Centria Capital Partners, empresa especializada em M&A, onde está trabalhando com startups que estão em busca de liquidez. 

O caminho da blockchain

"Fiz a primeira startup em blockchain (Owl Docs), para fazer a guarda e compartilhamento de dados de forma absolutamente segura seguindo a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e a GDPR (General Data Protection Regulation) em 2018. Essa startup foi vendida. A segunda startup (Kozmic.work), criada em 2019, começou com foco em uso da blockchain pra crédito e depois mudou para usar blockchain privada para onboarding corporativo. Eu queria transformar a Kozmic em uma empresa DeFi, mas a frustração foi não encontrar pessoas para o time. Não era a época ainda.

Passei os últimos dois anos estudando esse mercado. Que mundo maravilhoso é esse. Ainda é cedo para dizer se vai transformar completamente o sistema financeiro, mas dá para dizer que, como ele está hoje, certamente não vai ficar. Colocando a utopia de lado, porque ela não vai se realizar da forma como os nativos da área esperam, eu acho que vamos ter um meio-termo. Espero que a gente faça parte de alguma maneira, e vai ser muito interessante acompanhar."

Do open finance à DeFi

"O Open Finance ainda está se provando. A tecnologia, ela é maravilhosa, mas ao mesmo tempo é terrível. Ainda dá trabalho. Quando falamos de open finance, estamos falando de um monte de integrações de APIs para fazer as coisas se comunicarem, estamos falando de interoperabilidade. Isso é muito, muito, complexo. Eu vivi em banco durante um bom tempo depois que saí da Microsoft e sei que embora a gente esteja já falando de finanças descentralizadas, ainda tem muito a fazer na transformação digital, tem muito legado. Se for mover as coisas aleatoriamente você para o sistema financeiro.

A blockchain já é usada, mas para operações tradicionais do sistema financeiro. O open finance ainda está no seu início, e tem muita coisa ligada a dados que precisa avançar e amadurecer. Para mim, que tive uma startups de dados, a guarda e o compartilhamento dos dados é tudo. Tem muitas coisas a acontecer e tem coisas muito legais acontecendo. Eu acho que o Banco Central brasileiro é pioneiro, ele sai de certa forma atropelando e fazendo coisas legais. Eu estou fazendo o curso de DeFi do Banco Central, por exemplo, e achando maravilhoso o quanto de gente que está curiosa a respeito e participando.

Quando a gente vai para o outro lado, o lado das Finanças Descentralizadas, aí vemos que a mudança do TradFi (ou CeFi) para DeFi é uma mudança de paradigma, que tenta resolver esse desafio de não ter mais um elemento centralizador dos processos. E aí é bom falar de risco também, não só de oportunidade, porque estamos em um terreno muito experimental ainda."

A mudança de paradigma

“Quando a gente vai para DeFi, muda tudo de verdade. O empréstimo de recursos é uma das coisas de DeFi, por exemplo, que muda. Imagina que eu vou pegar o meu dinheiro e vou passar para você. Quem vai intermediar isso é um contrato inteligente (smart contract) que tem todas as nossas regras combinadas. Eu vou definir o endereço para onde vai ser enviado o dinheiro e ele cai na hora em que eu quiser, não importa onde você estiver, não vai ter uma autoridade, uma figura regulatória dizendo o que eu posso ou não fazer.

Eu não estou querendo desmantelar o sistema financeiro, mas no DeFi não vai ter um COAF dizendo “olha passou 50 mil ali, passou 100 mil ali, e é suspeito, porque pode ser crime". Pode acontecer de ser crime, mas nem sempre é. Tem esse conceito de liberdade, de você tomar as suas decisões sem passar por uma figura central, que em algum momento pode mudar as regras do jogo. 

Aliás, outra coisa muito importante é a regra do jogo no DeFi. Esse código, para ser realmente descentralizado, ele precisa ser aberto. O que significa ser aberto? Significa que se eu tenho uma startup e criei um código em DeFi, qualquer um pode entrar, contribuir e, inclusive, copiar e melhorar. Uma pequena mudança pode melhorar a velocidade de transação, por exemplo.

Outra característica importante é a interoperabilidade. A interoperabilidade é fundamental nesse sistema financeiro. Eu poder mudar meus ativos, não só dinheiro, de banco ou de protocolos, e interagir com vários protocolos de forma trustless, como se diz em inglês, porque a confiança sai da instituição centralizadora e passa para um algoritmo. Ela sai de um modelo matricial e centralizado para um modelo de muitas camadas, descentralizado, com uma infraestrutura sobre a qual correm camadas de aplicações e apps inteligentes."

VEJA OUTRAS ENTREVISTAS DA CONEXÃO DEFI