Um olhar pragmático sobre o futuro das finanças descentralizadas
Quando fez sua apresentação sobre tendências de futuro durante o SXSW 2023 (South by Southwest), em Austin, no Texas, a futurista Amy Webb, CEO e fundadora do Future Today Institute, avisou que é preciso muito foco para avançar daqui em diante na sociedade e na economia.
Embora o grande buzz tenha ficado com a inteligência artificial, o setor de serviços financeiros foi contemplado com um dos 14 relatórios aprofundados que compõem a 16ª edição do Tech Trends Report. Nesse caso, o impacto da DeFi (finanças descentralizadas) é um dos pontos fortes, acompanhado de open banking, open finance, interoperabilidade e transações invisíveis, uso intensivo de dados, governança, regulação e sistemas de proteção à privacidade e aos bens de clientes e consumidores.
“A confiança nas instituições legadas continua a diminuir, e o setor financeiro não é exceção. Empresas e consumidores olham cada vez mais além dos players tradicionais, para startups, mercados privados e finanças descentralizadas, em busca de soluções que os players legados ainda não entregaram”, diz Amy.
Cenário geral:
- O mundo DeFi e cripto passou por uma enorme tormenta em 2022, mas as tecnologias de pagamento instantâneo, os recursos para interoperabilidade (APIs) e a adesão dos consumidores criam uma camada de aceleração para o futuro digital.
- A expansão do trabalho remoto ajudou a solidificar essa digitalização de meios de pagamento e relacionamento financeiro, eliminando aspectos analógicos do setor (uso do papel).
- Open banking e open finance devem acelerar os dados abertos (open data), mudando fundamentalmente como os recursos são distribuídos e alocados.
- Abordagens centradas no cliente e socialmente responsáveis são as grandes apostas para projetos de serviços financeiros.
- Novas formas de modelagem de dados e pontuação de crédito expandirão o acesso aos sistemas financeiros em 2023.
Em 2023, espere por aumento da comoditização das infraestruturas de serviços financeiros.
- A inovação responsável será crucial para o futuro da pontuação de crédito alternativa, especialmente por meio de técnicas de machine learning e IA generativa, aplicadas em escala.
O cenário de DeFi:
- Nos próximos 18 a 24 meses, as finanças descentralizadas amadurecerão, desencadeando novos investimentos (incluindo venture capital e startups), crescimento e adoção.
- Enquanto DeFi se desenvolve, as organizações vão aprender “na marra” a construir um caminho em torno de sistemas de proteção estruturais para consumidores.
- O FTI antecipa que as finanças legadas vão tentar construir um tecido conectivo com os sistemas descentralizados, com o objetivo explícito de absorver funcionalidade suficiente para evitar uma desintermediação total.
- Grandes players não financeiros, com grande poder centralizado de mercado (como provedores de plataformas e reguladores) vão ganhar papel cada vez mais ativo na criação de regras e guias para a evolução dos serviços financeiros.
Em quem ficar de olho globalmente:
- Tencent e WeChat, e como vão coexistir com a regulação dos serviços financeiros, enquanto se expandem para além das fronteiras da China.
- A SEC (Securities and Exchange Commission, ou a CVM dos Estados Unidos) e sua capacidade de tornar o DeFi mainstream enquanto assegura e garante a proteção aos consumidores.
- O FIS (Fidelity National Information Services), porque continuará a digitalizar a infraestrutura de movimento do dinheiro no varejo.
- A Block (antiga Square), porque vai usar seu relacionamento com consumidores para ajudar a DeFi a entrar no mainstream, via comércio de varejo, usando o Cash App e o marketplace de varejistas.
- O consórcio European Union Digital Identity Wallet, porque está sendo pioneiro na implementação dos blocos básicos que vão constituir um ecossistema financeiro digital-first.
Tecnologias de impacto:
- Dinheiro programável: a automação e a digitalização do dinheiro criarão sistemas complexos para compra e venda de ações, inicialmente por meio de digital wallets.
- Digital wallets: novas carteiras digitais vão incluir armazenamento, pagamento e transferências para além das criptomoedas. Elas vão ativar instantaneamente escolhas pré-definidas de compra e venda de ações pelos consumidores, usando a tecnologia de smart contracts, que vão automatizar a governança, a propriedade e a memória das operações.
- Algoritmos compradores: os algoritmos agora tomam decisões de compra. Eles vão transcender o mercado financeiro para definir valores e propostas que façam sentido aos compradores de qualquer tipo de bem. Quando as pessoas se tornarem confortáveis com seu uso, passarão a se apoiar nos algoritmos para decidir, por exemplo, quando vender a casa ou se aposentar. Isso vai exigir das empresas que se preparem para atender a esses algoritmos ao invés de falar com pessoas.