Fundos registram resgates líquidos de R$ 37,8 bilhões no 1º semestre
Nos últimos cinco anos, desempenho só foi melhor que o mesmo período de 2023A indústria de fundos de investimento encerrou o primeiro semestre de 2025 com resgates líquidos de R$ 37,8 bilhões. O resultado representa uma reversão em relação ao mesmo período de 2024, quando houve captação líquida positiva de R$ 190 bilhões. Considerando os últimos cinco anos, o desempenho do semestre só foi melhor que o dos seis primeiros meses de 2023, quando as saídas líquidas somaram R$ 124,7 bilhões.
Os fundos multimercados lideraram os resgates de janeiro a junho deste ano, com retiradas líquidas de R$ 78,9 bilhões — patamar semelhante ao registrado no mesmo período de 2024, quando as saídas somaram R$ 80,8 bilhões. Em seguida, as maiores perdas foram dos fundos de ações, que tiveram saídas líquidas de R$ 43,6 bilhões no primeiro semestre, frente a uma entrada de R$ 8,1 bilhões em igual intervalo do passado.
“O desempenho da indústria no primeiro semestre reflete um cenário macroeconômico desafiador, marcado por incertezas políticas e econômicas, além de uma postura mais cautelosa por parte dos investidores. Eles têm sido mais seletivos na alocação de recursos em ativos de maior risco”, afirma Pedro Rudge, diretor da ANBIMA.
Ele observa que, ao longo do ano, a indústria apresentou uma dinâmica bastante volátil nos fluxos de captação. Houve meses marcados por saídas expressivas — como em fevereiro e abril, quando os resgates líquidos somaram R$ 24,5 bilhões e R$ 52,4 bilhões, respectivamente — e períodos de captação positiva, como em janeiro, março e junho, com entradas de R$ 14,2 bilhões, R$ 11,7 bilhões e R$ 13,6 bilhões. “Esse comportamento sugere que os investidores podem estar reavaliando suas estratégias diante de um ambiente que inspira cautela”, completa.
Na contramão do desempenho de outras categorias, os fundos de renda fixa lideraram a captação líquida no primeiro semestre de 2025, com entradas de R$ 59,4 bilhões. Apesar do resultado positivo, o saldo é significativamente inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando atingiu R$ 199,6 bilhões. Entre os destaques do semestre, estão os fundos do tipo duração baixa soberano — que investem em títulos públicos de curto prazo — com captação líquida de R$ 59,8 bilhões, e os duração livre crédito livre — que podem alocar mais de 20% da carteira em títulos de crédito de médio e alto risco, no Brasil ou no exterior — que tiveram entradas líquidas de R$ 26,8 bilhões.
Rentabilidade
Na categoria de renda fixa, entre os fundos com maior captação líquida no semestre, os do tipo duração livre crédito livre apresentaram a melhor performance, com retorno de 7%, superando o CDI, que avançou 6,4% no período.
No segmento de multimercados, os fundos do tipo long and short neutro — que montam posições compradas e vendidas com o objetivo de manter a exposição financeira líquida limitada a 5% — registraram a maior rentabilidade: 12,6% entre janeiro e junho.
Já na categoria de ações, os maiores ganhos no semestre vieram dos fundos setoriais, que investem em empresas de um mesmo segmento, com retorno médio de 35,8%, bem acima do Ibovespa, que subiu 15,4% no período.
Adaptação à Resolução 175
Até 3 de julho, 26.738 fundos — o equivalente a 82% da indústria — estavam adaptados à Resolução 175, cujo prazo de adequação terminou em 30 de junho. Esse percentual, no entanto, deve crescer nos próximos dias. Isso porque, conforme as regras da autorregulação da ANBIMA, os administradores têm até 15 dias após o registro do fundo adaptado na CVM para enviar as informações à Associação. Com isso, espera-se que até 15 de julho o número de fundos adaptados se aproxime dos 100%.
“A transição para a nova regulação foi complexa, mas a indústria respondeu à altura. Agora, com os principais requisitos da norma já atendidos, a expectativa é que os gestores avancem para uma fase de aperfeiçoamento das estruturas dos fundos, explorando as flexibilidades e inovações previstas na Resolução 175”, destaca Julya Wellisch, diretora da ANBIMA.
Do total de fundos adaptados, 73% optaram pelo regime de responsabilidade limitada dos cotistas, que prevê que o investidor não será responsabilizado por perdas financeiras além do montante que investiu.
Já 62% declararam a possibilidade de investir em ativos no exterior. A Resolução 175 permite que fundos destinados tanto ao público em geral quanto a investidores qualificados invistam até 100% dos seus ativos em mercados estrangeiros, desde que cumpram certos requisitos.