Nossa prioridade é ouvir o mercado
Com a pandemia, foco é entender as demandas dos associados e contribuir no que for possível para facilitar o dia a dia delesA pandemia da Covid-19 mudou rotinas em todo o mundo, com reflexos sobre a economia e os negócios. Na ANBIMA, nos adaptamos ao trabalho remoto, todas as atividades foram mantidas e o atendimento ao associado foi reforçado neste momento em que a informação se faz ainda mais necessária.
As discussões dos fóruns e demais organismos passaram a ser virtuais. A prioridade foi ouvir o mercado e dar andamento a medidas que pudessem minimizar os transtornos decorrentes dessa situação. Fizemos isso ajustando os próprios processos e intensificando o diálogo com os reguladores, como conta o nosso presidente, Carlos Ambrósio.
Na entrevista a seguir, ele fala também sobre o plano de ação da ANBIMA para 2020, que está sendo revisto para atender às novas demandas, com foco no papel que o mercado de capitais terá na retomada do crescimento econômico. Acompanhe a íntegra:
Portal ANBIMA: Quais foram as ações emergenciais adotadas pela Associação devido a pandemia?
Carlos Ambrósio: Nossas ações tinham dois focos: assegurar o atendimento ao associado em todas as suas demandas e garantir a saúde e o bem-estar dos funcionários. Desde 12 de março, suspendemos as reuniões presenciais de fóruns, comissões técnicas, grupos de trabalho, conselhos e comissões de autorregulação. Os encontros passaram a ser virtuais e a pauta girou em torno de medidas capazes de mitigar os impactos no dia a dia das instituições, dado o momento de contingenciamento. Com o avanço da quarentena, todos os funcionários passaram a trabalhar remotamente, sem prejuízo para as atividades operacionais da Associação. Intensificamos a troca de informações com o associado a partir do fortalecimento das plataformas digitais de comunicação e interação, como WhatsApp e Workplace. Tudo isso nos permitiu agir rapidamente para atender às demandas dos associados. Eles são informados em primeira mão sobre tudo que acontece na ANBIMA e sobre as decisões dos reguladores que afetam o mercado. Passamos a fazer transmissões ao vivo pelo Workplace, incluindo conversas com autoridades (a primeira com Daniel Maeda, da CVM) das quais eles podem participar e enviar perguntas em tempo real. Estamos trabalhando para intensificar também a comunicação com os aderentes aos nossos códigos de autorregulação. Teremos novidades em breve.
ANBIMA: Quais foram as primeiras demandas dos associados?
Ambrósio: As conversas com o mercado apontaram a preocupação com aspectos de duas naturezas: operacionais e estruturais. As questões operacionais diziam respeito, principalmente, aos prazos para cumprimento de obrigações regulatórias, que levamos para as autoridades competentes. Tivemos retornos positivos da CVM, do Banco Central e da Receita Federal. A CVM, por exemplo, permitiu assembleias digitais para fundos de investimento, CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e aumentou o prazo de desenquadramento de carteira dos fundos – antes restrito a 15 dias. O BC prorrogou a entrega de documentos e a Receita suspendeu atos processuais e prazos de procedimentos administrativos. Essas conversas continuam porque estamos em um trabalho constante de análise da situação.
E tivemos as demandas de natureza estrutural, que impactam o funcionamento do mercado como um todo. As principais são precificação e liquidez, sobre as quais conversamos com os reguladores. Com relação à liquidez, as diretrizes estabelecidas na autorregulação estão sendo revistas. Além disto, foram realizadas discussões com a CVM sobre a possível implementação de medidas emergenciais, em situações críticas, para gestão de liquidez com foco na Instrução CVM 555.
ANBIMA: O que está sendo feito em relação à precificação?
Ambrósio: Adotamos várias medidas para garantir que as nossas taxas refletissem o mercado, dado o momento de volatilidade. A falta de liquidez no mercado secundário, principalmente no início de março, provocou uma dispersão muito grande nas taxas recebidas das instituições que contribuem com o trabalho de precificação. Estreitamos a comunicação com essas casas e ampliamos os procedimentos de coleta e avaliação das taxas com o objetivo de reduzir disparidades que pudessem afetar os preços médios.
+ Novas medidas fortalecem a precificação de debêntures
ANBIMA: A Associação também flexibilizou os prazos para atendimento de suas próprias regras?
Ambrósio: Sim, olhamos para tudo que é exigido pelos códigos de autorregulação. O trabalho teve dois aspectos: primeiro tivemos o cuidado de adaptar as regras para que elas acompanhassem as flexibilizações estabelecidas pelo regulador. Se a CVM estendeu o prazo para a entrega de determinado relatório, a ANBIMA não podia exigir um prazo mais curto. Depois, olhamos para outras obrigações que poderiam ser flexibilizadas sem prejuízo para a atividade de supervisão. Prorrogamos o cumprimento de mais de 50 itens previstos em todos os códigos de autorregulação. As instituições ganharam de 30 a 180 dias de extensão, dependendo do tipo de regra. Também foram suspensos os prazos correntes em PAIs (Procedimentos para Apuração de Irregularidades), processos e termos de compromisso.
ANBIMA: As atividades rotineiras de supervisão ficam mantidas?
Ambrósio: Sim, mas nada é estático. A situação é acompanhada dia a dia e podemos reavaliar prazos e procedimentos caso necessário.
ANBIMA: O mesmo vale para as informações que o mercado encaminha diariamente para a ANBIMA?
Ambrósio: Mantemos uma rotina de coleta, tratamento e divulgação de informações, preços e índices. É a base para os nossos bancos de dados de fundos e de mercado de capitais, que ajudam a dar transparência e a acompanhar os movimentos dos mercados. Essa rotina não mudou, porque as próprias instituições associadas entenderam a importância de termos informações confiáveis neste momento de crise.
ANBIMA: Uma das primeiras ações motivadas pela pandemia foi a suspensão das provas de certificação. Quais os próximos passos?
Ambrósio: O calendário de provas será reestabelecido tão logo tenhamos segurança para isso, mas continuamos sem previsão. Enquanto isso, não podíamos ignorar os profissionais que buscam nossas certificações. Por eles, decidimos abrir gratuitamente o portfólio de cursos online para todos que quiserem aprender ou se aprofundar em temas do mercado financeiro.
Sabemos que a demanda represada pelos exames vai impactar lá na frente, quando o sistema de reagendamento de provas for reaberto. Por isso, estamos em contato com os centros de testes visando ampliar a oferta de horários e de vagas para a realização das provas.
ANBIMA: Como está a revisão do plano de ação 2020?
Ambrósio: O plano de ação para o ano foi estabelecido em dezembro de 2019, quando tínhamos um cenário completamente diferente do atual. Sabemos que o mercado de capitais terá um importante papel a cumprir na retomada da economia, mas também sabemos que as prioridades agora são diferentes daquelas que enxergávamos há alguns meses. Estamos revendo as iniciativas que concentrarão o nosso esforço daqui para a frente, com foco em apontar soluções à altura dos desafios que temos pela frente. Esse trabalho de revisão já está sendo feito pelos fóruns e, em breve, deve ser validado pela Diretoria.