ANBIMA Summit: risco ambiental ganha força nas análises de portfólios
Na visão de Paul Bodner, da BlackRock, é de se esperar que carteiras ASG tenham um desempenho melhor que outros ativos, especialmente nas recessõesA importância dos fatores sociais, ambientais e de governança, reunidos na sigla ASG, embora não seja nova, foi elevada de patamar nos últimos dois anos e começou a fazer parte do universo dos investidores brasileiros. Tem sido exponencial o crescimento da oferta de produtos, como fundos de investimento, que se intitulam ASG. O que sustenta este movimento é a ideia de que empresas com boas práticas socioambientais e de governança projetem retornos maiores em médio e longo prazos.
A utilização dos critérios ASG, na visão de Paul Bodnar, chefe global de Investimentos Sustentáveis da gestora BlackRock, ajuda a entender melhor a empresa antes de inclui-la no portfólio. “O ASG foi criado como um caminho para reunir novas informações sobre as companhias que vão além das financeiras. Ao combiná-las, o investidor consegue escolher melhor quem fará parte de seu portfólio”, explicou ao participar do debate “Por que a ASG importa para os investimentos”, no ANBIMA Summit, nesta sexta-feira. “É de se esperar que, ao fazermos isso, as carteiras ASG tenham um desempenho melhor, especialmente nas recessões, porque usamos mais informações e dados para escolher empresas mais resilientes que serão mais fortes. É para isso que o ASG foi criado”.
No processo de análise de portfólios da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo com US$ 9,46 trilhões na carteira reportados no terceiro trimestre, o ASG tem um papel essencial, explicou Bodnar, chamando a atenção para os riscos climáticos que cada vez mais vão pesar na economia. “Estamos preocupados com os efeitos na economia das emissões descontroladas de gases de efeito estufa e com os impactos físicos que isso terá. Precisamos reduzir a emissão de gases e tem muita gente investindo em sustentabilidade porque querem que seu dinheiro em empresas que acelerem a transição para uma economia de emissões zero”.
Nosso vice-presidente e charmain da BlackRock no Brasil, Cacá Takahashi, lembrou que o ASG não é exatamente um tema novo, mas que nos últimos anos ganhou espaço e relevância no Brasil. “Na verdade, o Brasil está no começo, no primeiro estágio do ASG, mas aumentando exponencialmente a oferta de produtos e o interesse dos investidores”, disse. Paul Bodnar, que atua com finanças sustentáveis há 20 anos, destacou que ao longo do tempo o principal avanço foi que se os riscos ligados ao meio ambiente não forem bem conduzidos, com ações efetivas, a economia caminhará em uma direção muito ruim. “Nós não devemos cuidar dos riscos climáticos porque amamos os ursos polares, mas porque amamos a estabilidade financeira. Acho que é o mais importante que vejo mudando”.
Sobre a participação dos países emergentes na construção de uma economia descarbonizada, o executivo afirmou ser essencial que não sejam esquecidos nesta história de zerar as emissões. “Se não nos concentrarmos em como os mercados emergentes continuarão crescendo e desvinculando esse avanço de novas emissões, a realidade é que seguiremos globalmente com emissões de gases de efeito estufa que vão levar a um nível incontrolável de riscos climáticos”, afirmou. A BlackRock, em um artigo publicado há algumas semanas, estimou que será preciso investir US$ 1 trilhão em tecnologias climáticas em mercados emergentes todo ano, sem incluir a China, entre 2021 e 2030, para manter a descarbonização. No momento, este investimento é de apenas US$ 150 bilhões, segundo a gestora.
Dados da BlackRock sobre o crescimento dos ativos sustentáveis sob gestão na América Latina comprovam o interesse exponencial no tema. Cresceram de quase US$ 500 milhões no início de 2020 para mais de US$ 6 bilhões em agosto de 2021. Takahashi, ao reforçar que no Brasil o interesse também avança a passos largos, acrescentou que há mudanças na autorregulação para ajudar o mercado a se desenvolver de forma sustentável. “A ANBIMA tem algumas iniciativas para ajudar os investidores a identificar os projetos que temos no setor. No momento, temos um processo de audiência para nossa estrutura de identificação dos fundos de investimento ASG”, explicou, indicando que também está sendo feita uma pesquisa para compreender como os gestores de ativos andam alocando os produtos ASG nas empresas. “Além disso, uma das responsabilidades da ANBIMA é a formação. Estamos incluindo o ASG em todas as nossas certificações.”