MKBR22: Olivier Blanchard avalia inflação e taxas de juros nos EUA e na Europa
Ao abrir o MKBR, o ex-economista-chefe do FMI explicou o cenário econômico, ponderando situação pós-covid e com guerra na UcrâniaQuatro fatores têm determinado o que está acontecendo com a inflação, destacou Olivier Blanchard, que foi economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), ao palestrar no primeiro dia do , evento organizado pela ANBIMA e pela MKBR 22B3, nesta terça-feira, 20, em São Paulo. O economista francês falou sobre inflação e taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa, temas que têm sido suas principais áreas de atuação.
O primeiro fator é o superaquecimento da economia, que reflete nas taxas de desemprego. O segundo está ligado aos efeitos diretos dos preços de energia e de commodities, com ruptura de estoque e interrupções nas cadeias de suprimentos. O terceiro é o chamado efeito secundário, pois, uma vez que os preços da energia subiram, as empresas passaram a usar insumos intermediários produzidos com energias mais caras, o que impacta em aumento de preços. E o quarto e último fator é a ancoragem de expectativas no longo prazo.
Olivier Blanchard conversou com Ana Paula Vescovi do Santander
“Você tem esses quatro fatores nesta fase, e a questão é como eles vão se somar e quais serão os resultados”, ressaltou. Para os Estados Unidos, acrescentou o economista, uma boa notícia no curto prazo é o fato de os preços das commodities estarem caindo, o que levará a uma queda na inflação. Já na Europa, a questão tende a ser diferente, com inflação geral não tão boa.
Traduzindo o que isso significa e implica para as taxas de juros e um possível risco de recessão para os dois lados do oceano, Blanchard disse que, em geral, uma situação como essa tende a desacelerar a inflação. “Para se livrar da inflação, você precisa de alguma diminuição na atividade. Agora, existem duas maneiras pelas quais você obtém uma diminuição na atividade. Pode ser que a demanda diminua por conta própria e, nesse caso, o banco central não precisa fazer muita coisa, porque simplesmente acontece, e, assim, não precisa aumentar muito as taxas de juros. Ou pode ser que a demanda seja muito forte e, então, o banco central tem realmente que usar as taxas de juros como freios para desacelerar a economia”, detalhou.
Nos Estados Unidos, o antigo economista-chefe do FMI explicou que, apesar de estar acontecendo uma consolidação fiscal, as pessoas acumularam muitas economias, estão gastando e não há nenhum sinal nesta fase de que a economia esteja desacelerando. “Minha impressão é que a economia está forte; nesse caso, o que vai ter que acontecer é que, se a demanda não desacelerar por conta própria, o FED vai ter de aumentar as taxas de juros”, apontou.
Com relação à Europa, o ajuste necessário de demanda é menor, facilitando, segundo Blanchard, o trabalho do BCE (Banco Central Europeu). Outro ponto que ajuda é que o mercado de trabalho não é tão organizado quanto nos Estados Unidos, o que diminui a chance de reajustes por conta da inflação. Ele disse acreditar na possibilidade de que a demanda diminua por conta própria, devido à incerteza na Ucrânia, à preocupação com energia e à perda de poder aquisitivo da renda real, que foi parcialmente compensada por medidas fiscais dos governos. Além disso, a valorização do dólar contribuiu para a diminuição da renda na Europa. “Eu acho que há uma boa chance de que a demanda desacelere por conta própria. O BCE tem um trabalho mais fácil, não precisando aumentar muito as taxas de juros. Ele não precisa fazer isso para ter uma grande diminuição na demanda em primeiro lugar.”