MKBR22: Bancos centrais independentes protegem economias do populismo, diz Levitsky
Co-autor do best-seller “Como as democracias morrem”, Steven Levitsky disse acreditar que uma das maneiras de proteger a economia e a democracia de um país é tornar os bancos centrais independentes, caminho já percorrido pelo Brasil após a sanção, em fevereiro de 2021, da lei que deu autonomia ao Banco Central. Durante painel no MKBR22, evento organizado pela ANBIMA e pela B3, o professor da Universidade Harvard trouxe sua visão crítica sobre eleições e o estágio da democracia brasileira.
Para ele, o Brasil passa por um momento ruim e que, em períodos eleitorais, partidos políticos são tentados a não seguir totalmente as regras e até questionarem o resultado das urnas. Ele ressalta que isso é perigoso à democracia e que um dos efeitos mais nocivos que Donald Trump, ex-presidente americano, causou, entre vários, foi justamente “inventar essa mentira de que a eleição foi roubada”.
Steven Levitsky, Co-autor do livro “Como as democracias morrem" falou sobre o papel das instituições no cenário pós-eleições
“Durante a vida inteira, quando perdia alguma coisa, ele dizia ter havia fraude. Ele fez o roteiro de sempre. O problema é que o Partido Republicano e seus líderes, que sabiam da lisura da eleição, não se manifestaram publicamente”, afirma Levitsky.
Para o professor, a democracia enfrenta dificuldade quando um dos partidos não está disposto a aceitar os resultados da urna e que o Brasil está seguindo o mesmo caminho do que aconteceu nos Estados Unidos. “Todos nós sabemos que o sistema eleitoral brasileiro funciona muito bem. É um sistema bastante eficiente, que existe há décadas e não há a menor dúvida de que as eleições brasileiras são livres e justas”, diz.
O professor também destacou que é preciso ficar atento aos sinais de despotismo das lideranças políticas. “Quanto mais tempo os líderes autoritários estiverem no comando mais eles tentam subverter a democracia. Muitas vezes isso é rápido, mas, frequentemente, leva tempo. Leva tempo para resolver a burocracia, envolver a polícia ou os militares e, no Brasil leva tempo para envolver o lado judiciário, o STF.”
Partindo desse ponto de vista, segundo Levitsky, foi importante que Trump não tenha conseguido a reeleição. “A democracia americana sobreviveu há quatro anos de Trump, talvez com alguns retrocessos, mas oito anos teria sido devastador para a população”, ressalta o professor.
O poder das redes sociais
Durante o evento, Levitsky também pontuou sobre o poder das redes sociais na polarização de diversos temas.
Grupos tradicionais como de partidos, de representantes de empresas, mídias, entre outros, tem perdido sua influência para “o bem e para o mal. Ele cita como exemplo os políticos dos anos 60, 70 e até 80 que só conseguiam “voar mais alto se tivessem aprovação dos principais grupos”. Isso não é mais assim, em parte por conta do surgimento das redes sociais e do seu papel.
Hoje, é muito mais fácil para alguém que não faz parte de um grupo político conseguir algum destaque. “Seria até um exagero dizer, mas qualquer um pode ganhar a eleição para presidente. Por um lado, é democrático, mas acaba criando um ambiente muito mais volátil, instável e polarizado na política”, diz. Esse novo ambiente vem exigindo adaptações. “É algo que veio para ficar, os políticos vão ter que se adaptar e desenvolver novas práticas, normas e regulações”, afirma.