MKBR22: Favoritismo nas pesquisas eleitorais não é garantia de vitória
Analistas políticos apontam números favoráveis ao candidato Lula, mas lembram dificuldade de prever como abstenções, voto útil e melhora econômica impactam na reta final da campanhaA pouco mais de 10 dias para o primeiro turno das eleições presidenciais, a disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) segue com uma boa margem nas pesquisas eleitorais em favor do petista, mas sem que isto possa sugerir uma vitória já no primeiro turno. Temas relevantes no debate, como a melhora recente da economia, que pode favorecer Bolsonaro na reta final, e a dificuldade de medir o eventual impacto do voto útil e das abstenções no resultado do pleito deixam especialistas ainda cautelosos ao prever um resultado.
Na visão dos cientistas políticos, não há espaço para surpresas fora da polarização. “A terceira via não se organizou para se tornar competitiva, não se esforçou em tempo hábil para isto. O que temos de concreto é hoje um certo favoritismo do candidato Lula. No dia da eleição serão 135 milhões de brasileiros apertando o botão para decidir o próximo candidato”, comenta Silvio Cascione, diretor da consultoria Eurasia, em painel no MKBR22. Ele acrescenta que pesa a rejeição que Bolsonaro construiu ao longo de quatro anos, principalmente junto ao eleitorado feminino.
Lucas Aragão, da Arko Advice (centro), e Sivio Cascione, da Eurasia (dir), participaram do painel "Eleições 22: o que nos aguarda em outubro?", mediado pela jornalista Thais Oyama.
A dificuldade em apontar um possível vencedor, diz Cascione, se sustenta também pelo histórico do Brasil em eleições. “Tivemos um eleito para caçar marajás, desconhecido, depois um PHD formado na Sorbonne, na sequência um presidente quase sem instrução formal, mas muito popular, depois elegemos uma mulher, e na última um capitão do Exército. Tem um favoritismo sim de Lula, mas com tanta polarização só o dia do voto vai decidir.”
O discurso de Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, vai na mesma direção. “O favoritismo de Lula está posto, mas o Bolsonaro segue na disputa. Para virar o jogo precisa de fatos. A economia está melhorando e sempre foi tema relevante das campanhas o que ao lado dos estímulos monetários pode reservar alguma surpresa na reta final”, comenta Aragão.
Abstenção e voto útil no radar
O voto útil, que ajudou a eleger Jair Bolsonaro, agora tem sido relevante nos indicadores em favor do candidato do PT. A dúvida, apontam os especialistas, é se ainda há margem para que Lula cresça mais na reta final. “Em agosto, a Arko realizou uma pesquisa que apontou que 53% de quem votou no Ciro Gomes (PDT) em 2018 já havia decidido votar agora no Lula, já no primeiro turno. Isto indicava que boa parte do voto útil já está computado nos índices de Lula nas pesquisas. Difícil saber se ainda tem voto útil a disputar”, comenta Aragão.
Por outro lado, aponta o cientista, pesquisas mostram que o eleitor de Lula tem menos vontade de votar do que o de Bolsonaro, o que pode elevar as abstenções.
Para os dois cientistas políticos não há risco de uma ruptura institucional, mesmo que haja questionamentos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a respeito do resultado ou algum ato de violência localizado. “Violência sempre preocupa, mas se ocorrer será algo isolado, radicalizações pontuais e apenas isto”, diz Cascione.
Independentemente de quem for o eleito, a dificuldade de formar uma coalisão para governar em um Congresso com partidos fragmentados será uma constante. Aragão lembra que o Congresso tem cada vez mais poder. “Hoje os vetos presidenciais vão a voto e, se não forem votados, trancam a pauta. Além disso os partidos não punem mais quem vota contra a orientação, ou seja, tudo muito mais difícil para o governo.”
Cascione observa que qualquer eleito terá que negociar com as moedas de troca conhecidas, como espaço nos ministérios e apoio a emendas. “Os primeiros seis meses são importantes para o governo formar uma base, se organizar porque depois a popularidade do eleito cai e o Congresso passa a pedir mais. É sempre assim. O PT sabe que se Lula for eleito não terá tanta margem política e econômica e, por isso, Geraldo Alckmin é o vice.”
O futuro de Jair Bolsonaro
Mesmo que não consiga se reeleger, afirmam especialistas, Bolsonaro deve seguir relevante no mundo político e será o candidato natural a uma oposição em 2026. “Diferente de Lula que tem um partido, o Bolsonaro não tem, isto é ruim, não ter uma casa faz com que ele não participe do debate econômico e político, mas, mesmo assim, terá seu espaço”, comenta Aragão. Ele vê como positivo novos nomes ao centro que começam a surgir, citando Romeu Zema (Partido Novo), ACM Neto (União Brasil), Eduardo Leite (PSDB).