A inovação e a disrupção nunca são óbvias. É preciso saber procurar sinais e um dos especialistas em "tendências não-óbvias", Rohit Bhargava, compartilhou sua lista de 2022. Nosso mestre da curiosidade — e, por que não, também da tal da re-percepção pregada por Amy Webb — foi certeiro ainda ao cravar que, diante da "Abundância de Dados" e do ruído que nos impede de discernir o que é valioso e autêntico, será cada vez mais necessário encontrar meios de enxergar o que os outros não estão enxergando, até para ajudar as pessoas a se sentirem capacitadas, informadas sobre determinados temas e aptas a aprenderem em pouco tempo.

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Seu alerta mais importante? Foco nas pessoas, não na tecnologia. O importante é refletir sobre como essas tendências mudarão a maneira como pensamos, o que acreditamos, o que compramos, o que vendemos, em quem confiamos...

Então, vamos a elas.

1. Amplified identity (Individualismo amplificado): teremos múltiplas personalidades a depender das plataformas nas quais interagiremos.

2. Ungendering (removendo o gênero de coisas que realmente não precisavam de gênero): Prima do genderless e do agênero, a ideia aqui é se esforçar para remover o preconceito de gênero, uma vez que a ampliação do debate sobre diversidade está mudando a maneira como vemos as pessoas. Já estamos sendo apresentados a roupas sem gênero, corredores de brinquedos infantis sem gênero, etc. "Cada vez mais licenças e passaportes estão permitindo um X no campo de identificação de gênero", diz Bhargava.

3. Instant knowledge (Conhecimento instantâneo): conhecimento adquirido de forma rápida e acessível, em qualquer lugar, a qualquer hora, como nos vídeos de bricolagem do YouTube, nos sites de receita, e por aí vai.

4. Revivalism (Revivalismo): investir no retrô, inspirado pelo saudosismo dos consumidores, como forma de inspirar mais confiança. "Porque quando há muita tecnologia, quando há muita complexidade, temos o desejo de voltar para as coisas que conhecemos e nas quais confiamos", explica. Por isso as pessoas estão ouvindo música em vinil e CD. E a Kodak voltou a vender filmes para fotógrafos obstinados. Parece uma tendência antiga, mas está de volta!

5. Human Mode (Modo humano): humanização do consumo e dos produtos. Queremos a volta de experiências humanas e empáticas, como os caixas do supermercado. E as marcas devem se preocupar mais com todos. Os frascos de xampu Herbal Essences, por exemplo, têm linhas ou pontos para ajudar cegos e deficientes visuais a diferenciá-los. "Às vezes criamos algo que parece ser bom para um grupo pequeno, mas acaba sendo útil para todo mundo. E isso é humanidade", explicou Bhargava. "Quantas coisas mais poderíamos fazer com empatia? Adicionando o modo humano e quão melhor isso poderia ser?"

6. Attention Wealth (Riqueza da atenção): sua atenção é seu bem mais precioso. Muitas marcas estão tentando capturá-la , de muitas maneiras diferentes. "Fique atento ao que só quer roubar seu tempo. Separe o que importa do barulho", diz. E vale para as marcas: ofereça experiências que valham a atenção do seu cliente.

7. Purposeful profit (Lucro intencional): marcas e empresas devem pensar seriamente em como se posicionar para mostrar seus valores.

8. Data abundance (Abundância de dados): 90% dos dados do mundo foram criados nos últimos 2 anos. Há sessões inteiras no SXSW dedicadas a isso. O que precisamos fazer? Evitar a poluição de dados. Faça perguntas melhores para obter melhores insights.

9. Protective tech (Tecnologia de proteção): tecnologia a serviço das pessoas, prevendo e protegendo (ex: alerta de fraudes).

10. Flux commerce: é a ideia de que as linhas entre as indústrias estão começando a mudar. Muitas estão começando a olhar e trabalhar fora do seu core business, obtendo receitas em novas verticais. A Crayola, por exemplo, entrou no mercado de beleza pessoal, com uma linha de maquiagem, a Crayola Beauty. E a Taco Bell ingressou na hotelaria, customizando quartos de um hotel parceiro que cheiravam a... Taco Bell. Os fãs da marca adoraram. 

Nos últimos anos, Rohit Bhargava, escritor, especialista em inovação e marketing, autor do método de  observação de comportamentos disruptivos vem colecionando ideias inovadoras que percebe, aqui e ali, no seu dia-a-dia. Quando as agrupa e fala sobre elas sabe que formam um conjunto de tendências capaz de reduzir o ruído causado pelo excesso de informação e sinais que nos cercam. Sua curiosidade recai sobre o que impacta a vida das pessoas, assim como suas lentes costumam focar no é mais relevante. Por isso, as sessões nas quais revela suas "tendências não-óbvias" costumam estar entre as mais concorridas do SXSW. Este ano não foi diferente.

Ao longo de 50 minutos, no ritmo acelerado que caracteriza suas explanações, Bhargava passeou por 10 tendências, ilustradas por 103 slides, muitos deles dedicados a casos reais, já no mercado.

Entre as tendências mais interessantes, destacamos "Identidade Ampliada", intimamente relacionada com um dos temas mais instigantes do SXSW este ano.Considerando que o metaverso não será uma entidade centralizada, mas uma coleção de inúmeras aplicações, a forma como curamos nossa identidade nesses diferentes lugares moldará a maneira como as pessoas nos veem. Para o marketing, atingir grupos-alvo com ofertas e conteúdos relevantes torna-se ainda mais complicado e a divisão acelerada de identidade do consumidor amanhã é algo para o qual as marcas devem se preparar desde já.

 

ANBIMA em Austin - Sustentáveis e inclusivos

ESG é um caminho sem volta, e temas associado a diversidade, inclusão e sustentabilidade proliferam na SXSW. Amanda Brum, gerente de marketing da ANBIMA, circulou pelos painéis e conta tudo o que viu e ouviu sobre o assunto

 

WEB3 – As diferentes versões sobre o metaverso

No SXSW, muito se fala sobre o metaverso, mas as visões de como será esse mundo virtual são, em parte, conflitantes. Mark Zuckerberg vende o conceito desenvolvido pela Meta de um espaço em que cada um será representado por um avatar e poderá ter experiências imersivas — um futuro em que a sua companhia poderia se destacar dentre as outras organizações. O professor Scott Galloway acredita que a Apple será a empresa dominante, em um metaverso mais guiado pela voz do que por tecnologias virtuais.

 + Hora de explicar as buzzwords - Veja os destaques do SXSW 2022

Há quem creia que ambos estão errados, como argumentam Raffaella Camera, Head Brand And Advertising Solutions da Epic Games; Philip Rosedale, fundador e Strategic Advisor da Linden Lab/Second Life; Timmu Tõke, fundador e CEO da Ready Player Me; e Charlie Fink, professor na Chapman University, na “Featured Session: What's in a Metaverse?”. Para os palestrantes, o metaverso deverá ser mais aberto, sem o controle de uma única empresa, ter um aspecto de socialização e possuir uma economia mais baseada em bens digitais do que em publicidade.

• Os games vão liderar o desenvolvimento desse mundo virtual. “As ferramentas para criar o metaverso existem há pelo menos 25 anos. Todas vêm dos games”, afirma Camera. 
• Os palestrantes concordam em um ponto: as experiências sociais são um ponto fundamental da atratividade do metaverso.
• Devem existir múltiplos espaços virtuais e não apenas um único ambiente digital. “Minha aposta é que, pelo menos no começo, existirão ilhas bem-sucedidas de experiências equivalentes ao metaverso de propriedade de diferentes companhias", analisa Rosedale.
• O debate sobre a possibilidade do metaverso ter um dono ressalta como é preciso pensar na governança nesse espaço.

Confira o que mais foi dito sobre o futuro do metaverso no site da The Shift.

 

DeFi em Austin parece conversa entre amigos

As finanças descentralizadas (DeFi) e seus ativos estão por todo lado na SXSW 2022. Mas falta o contraponto nas conversas, pondera Amanda Brum, gerente de marketing da ANBIMA. "No palco, a maioria são militantes da causa".

 

MUDANÇA CLIMÁTICA – Neal Stepherson centra foco na crise climática

“As consequências da mudança climática afetam pessoas no mundo inteiro”, disse o escritor Neal Stephenson logo no início de sua conversa com Charles C. Mann, da The Atlantic, na sessão do SXSW 2022. “A situação é muito mais calamitosa do que as pessoas querem reconhecer”.

“Precisamos de complexos gigantescos de superfábricas que não estariam mais produzindo CO2 e sim retirando blocos enormes de dióxido de carbono da atmosfera”, ofereceu como resposta para os dilemas enfrentados pelo planeta. Vai custar caro? Com certeza, mas ele acredita que é preciso um mega investimento em tecnologia de captura de carbono para tornar o processo escalável e começar a baixar os níveis existentes no ar. É uma questão de engenharia, pontuou. Haveria outras, como bioengenharia, para termos plantas geneticamente modificadas que poderia acelerar o processo que fazem de transformar dióxido de carbono em oxigênio.

+ Daos, muito além do óbvio - Veja os destaques do SXSW 2022

Em seu mais recente livro, publicado no final do ano passado, “Termination Shock”, Neal Stephenson fala sobre o impacto da crise climática no planeta e o que motiva seu personagem a tentar usar radiação solar. Nesse futuro imaginado, um bilionário do Texas decide sozinho reverter o aquecimento global usando radiação solar. Ele admite que pode parecer um tema complexo para um livro de ficção científica, mas basicamente o que o levou a escrever é o fato de que as partículas de dióxido de carbono aumentaram de forma exponencial na atmosfera.

Neal Stephenson tornou-se um dos autores mais influentes dos últimos tempos. Ele cunhou o termo metaverso em seu romance “Snow Crash”, de 1992, que descreve um futuro distópico dominado pela tecnologia. As ficções de Stephenson influenciaram os designers do Google Earth e do Xbox Live. Jeff Bezos ficou tão impressionado pelo romance “Diamond Age: or A Young Lady’s Illustrated Primer”, que ele apelidou a equipe de desenvolvimento ultra-secreta do Amazon Kindle de “Projeto Fiona”, em homenagem a um personagem do livro. Veja o que ele comentou sobre o metaverso ter se tornado uma buzzword no site da The Shift.