MKBR22: Mercado de títulos verdes precisa de regras claras para evoluir
A definição de uma taxonomia é importante para a evolução do mercado de green bonds, os títulos verdes. O Brasil ainda não tem uma discussão local sobre o tema, mas cerca de 25 países e regiões já estão tratando o assunto, que foi tema de painel do MKBR22, evento organizado pela ANBIMA e pela B3, nesta quinta-feira (22).
Para Julia Ambrosano, coordenadora de Infraestrutura para Brasil, América Latina, na CBI, é importante ter uma linguagem comum entre as taxonomias. “Há dificuldade de entendimento sobre quais são os padrões de divulgação ESG, inclusive para todo o ambiente de transição, eu destacaria esse ponto como um grande desafio para o setor”, afirma.
Julia Ambrosano (esq), Gabriel Azevedo e Luiza de Vasconcello participaram do painel 'A transição dos green bonds'
O chefe da divisão ESG do BID Invest, Gabriel Azevedo, concorda sobre a importância de ser transparente com as informações. “Transparência não é só relevante, ela é essencial”, afirma. Ele ressalta ainda que o Brasil tem um grande capital natural e é preciso aproveitar. “A gente tem uma grande oportunidade com os títulos verdes. O país tem um capital natural, com uma matriz verde e com o agronegócio que pode expandir sem derrubar uma árvore. Temos capacidade de aproveitar e capitalizar, o que falta é avançar em alinhamentos de padrões, uma taxonomia voltada à nossa realidade, e a capacidade de transmitir e gerar confiança entre investidores e emissores”, pondera.
Julia lembra ainda que, no início, o mercado olhava muito para os títulos verdes por conta das mudanças climáticas e como mitigar seus efeitos. Mas houve uma evolução com a entrada de temáticas sociais para garantir uma transição justa para o zero carbono.
“A principal evolução percebida neste mercado é que, além dos títulos de transição, também se começa a olhar os setores mais marrons da economia. Como trazer estes setores também para a transição, para fiscalização deles?”, questiona.
Segundo Azevedo, o processo de estruturação tem algumas fases distintas que precisam ser consideradas. Primeiro, a variação, na qual se vê o alinhamento estratégico, o ativo de energia e a capacidade de gestão; segundo o desenho, a estrutura ou arcabouço, alinhando aos padrões internacionais; a terceira fase é a de revisão, a confirmação do alinhamento entre o que se quer fazer e os padrões temáticos ao qual se propõe a missão; a quarta etapa é a emissão, o processo de estruturação financeira, que é o passo mais comum e com o qual o mercado está acostumado; e o quinto é o monitoramente de divulgação de informações.
Atualmente, a América Latina representa 4% das emissões globais de títulos verdes, o que equivale a cerca de US$ 36 bilhões. O Brasil responde por US$ 11,8 bilhões desse montante, sendo o segundo maior mercado, ficando atrás apenas do Chile, que tem grandes emissões soberanas, ao contrário daqui, onde as operações são, majoritariamente, privadas.
“Eu analiso o mercado brasileiro como muito mais diversificado, um pouco mais maduro. O primeiro título verde do Brasil veio em 2015. A gente tem uma grande diversificação de tipos de emissores, muito mais do qualquer outro país da América Latina”, explica Azevedo.